(Ano 2007, Painel em caneta de prata e ouro e cristais sobre tela acrílica preta, 30x30 cm, Colecção Particular)
XXV. Preciso de Silêncio
Preciso de silêncio. Oh como preciso de silêncio. Preciso de silêncio, como se de pão para a boca se tratasse. Preciso do silêncio das noites negras. Preciso do silêncio dos prados ao vento, do desabrochar da flor, do esvoaçar da borboleta. Preciso do silêncio que fica depois da marés ou de uma noite de fazer amor. Preciso do silêncio das primeiras neves ou das últimas chuvas. Preciso do silêncio que fica depois da morte. Dentro de mim apenas quero silêncio hoje. Nada mais me dêem, nada mais me queiram dar. Apenas silêncio. Apenas a Paz dos Mortos é o meu desejo. Apenas hoje e só hoje quero o silêncio eterno. Se houvesse mais algum desejo este o seria. Quero ter águas correntes e estagnadas, pelo silêncio, e nele me afogar. Quero ter pântanos silenciosos de nevoeiro e brumas inebriados, de vegetação em luxúria enriquecidos e aprisionados no silêncio. Quero ser vento no mais alto dos montes e o silêncio dos canaviais, vestir o linho das montanhas e aprisionar a brisa dos oceanos. Apenas hoje. Apenas hoje o silêncio quero. Dêem-me apenas silêncio como alimento e nada mais. Silêncio. Apenas silêncio para silenciar meus desejos e acalmar minhas guerras. Apenas silêncio e a Paz dos Mortos.
(Poema XXV extraído do livro “Por Detrás das Lápides” de Joma Sipe)