Eu não matei minha mãe - João Carcule
Leitor estou de volta depois de algumas férias por conta, deu um tic de poeta em mim nesses dias e produzi um monte de sonetos, deles alguns bons e outros muito ruins, no meu modesto gosto. Pensei um pouco e postei todos. O leitor que separe os ruins dos bons ou vice-versa e se não gostar jogue todos no lixo da internet já que nela se tem de tudo - Se você quer ver os meus desvarios, vai ao ramedaol.blogspot.com e confira os meus devaneios poéticos! Afinal o poeta vive dos elogios e sobrevive das críticas, não importa se esta é a ordem. O importante é que falem das poesias. Elas são minhas filhas e as coloquei no mundo para viverem sem mim, nesse mundão de meu Deus. Afinal, os filhos a gente põe no mundo, não para nós, mas para o mundo e existem os filhos feios e os bonitos. Só escapam desta regra somente os filhos da D. Coruja, o restante segue a baciada!!!
Uma amiga mandou-me um e-mail com uma história sobre a relação entre os filhos e as mães muito interessante, desconhece-se a autoria segundo o texto. Eu fico triste quando vejo a ausência do autor, normalmente se faz com muito carinho e não saber o nome do autor , fica como o ditado das crianças " de repente do nada" apareceu uma história! A gente que escreve, sabe que não é do nada. Vem com muito sofrimento na hora da criação, há muito pensar para criar, há muito sentir! Então eu resolvi colocar na boca do meu tio João Carcule para ver o que ele faria com esta história. Ele me surpreendeu devolvendo de imediato desta forma:
João Carcule tinha viajado a cavalo para o Capão da Véia, lá pelos lados de Ribeirão Grande , logo ali perto de Capão Bonito no Vale da Ribeira. Ele tinha ido para passar uns dias no sertão para ser padrinho de casamento do seu quase sobrinho Pimentão. Digo quase, porque ele é filho do cunhado com outra, a segunda mulher. A primeira, era imã do meu tio, havia morrido e ele, então, casou com outra para completar a caminhada da peregrinação provocada pela serpente lá longe, no tempo do paraíso! No seguir do rumo, estavam todos à noite, à beira do fogo proseando conversa de família e num determinado momento, Pimentão falou da sua mãe, da saudade que tinha dela e que a queria naquele momento importante, o do seu casamento!
João Carcule pensou um pouco e passou a mão na testa e soltou que os filhos só reconhecem a importância das mães quando estão ausente, eu não concordo muito com ele, mas se ele falou é porque ele tem experiência disso. Seguiu ele comentando quando era criança ele foi a escola e chorou, porque a mãe não entrou com ele na aula. Mas quando saiu, ela estava lá de braços abertos no portão. Numa outra ocasião ele foi para escola e antes de entrar, mandou a mãe ir embora disse que sabia voltar sozinho. Ela falou:
- Olha que vou mesmo!
De pronto ele, bem seguro de si, disse:
-Pode ir!! Eu já sou grande! Melhor ainda, matei você, pra nunca mais vir me buscar!
Naquele tempo, ele era criança mesmo e tinha perto de 10 anos e já havia se engraçado com uma colega de classe. A garota havia dito em uma determinada situação, que ele deveria sair da barra da saia da mãe! E por esta razão que saiu esta fala! Meu tio falava com lágrimas nos olhos, o caso era sério, e os demais, a beira do fogo, nem piscavam, estavam condoído com o que viam e ouviam! Uma das crianças que ouviam perguntou:
- Você matou a sua mãe?
- Matei mesmo!
A criança só entendeu depois quando ele comentou que quando deu o sinal, a mãe estava lá como em todos os dias esperando o filho amado! E seguia ele com a conversa. Numa outra ocasião ,ele foi numa festa e estava com uma rapaziada e numa conversa animada. A mãe foi e o chamou para ir embora com ela. Ele de novo falou:
- Mãe largue do meu pé, eu já sou grande!
- Vamo imbora filho, tá na hora, eu vou e largo você aí!
- Mãe matei você! Pode ir, eu sei me virar!
E os colegas acharam uma atitude, não muito comum e um deles falou:
-Isso não se fala para mãe da gente!
Ele de pronto respondeu:
- Eu tenho que sair da barra da saia dela, por isso eu matei e mato todas as vezes que quiser! Eu não quero a minha mãe me enchendo o saco!!
Os olhos dos ouvintes, a beira do fogo, bebiam as palavra e ouviam pelo corpo todo, simbolizados nos arrepios dos pelos dos braços. Mas nem piscavam! Acharam interessante a morte da mãe duas vezes. Ouve uma parada para algumas reflexões. Surgiram várias opiniões. Uma era de que o tio foi mal educado com a mãe e que a coitada não merecia isso e , também, que deveria ser castigado. Um outro falou que ele tinha envergonhado a família perante as outras pessoas, falando daquele modo com a mãe! Um outro já disse que mãe enche o saco mesmo, tem hora que a gente quer matá-la para parar de buzinar no ouvido do filho!
O meu tio só escutava e se preparava para completar o assunto. Achou interessante as opiniões, que deixou até que se esgotassem todas as falações! Chegou um momento em que ele puxou a narrativa para o seu comando e continuou com a fábula. E disse que sem a mãe para encher o saco na festa, ele resolveu tomar vinho com os amigos e tomou um, dois , três, quatro copos foi aí que ele contou e que após o quarto corpo a matemática confundiu a sua cabeça, que não soube o total da soma, mas sabia que bebeu bastante pelo estado que ficou! Tanto que, na hora de ir embora, os colegas que o levaram para casa. E foi carregado, pois não aguentava parar em pé! Uma senhora vizinha, que ouvia também a conversa ali ao pé do fogo, perguntou para ele:
- Tudo isso é verdade?
Ele de pronto disse:
-Por Deus do céu que está entre nós!
A senhora abanou a cabeça para os lados como reprova. Este sintoma, o meu tio sentiu até nos olhos dela. Na cabeça dele passou até que a história dele estava mais para mau exemplo do que para bom exemplo! Ele desligou-se dos olhos da vizinha e emendou o restante da cena. Disse que ao chegar em casa, foi o pai quem o recebeu e pediu para alguém que o colocasse na cama e que no dia seguinte ia acertar essa matemática do vinho! Esse cálculo errado teria de ser revisto e depois dos noves fora, teria de dar zero! E seria corrigido a conta com o cinto e do lado da fivela!
De madrugada quando o meu tio acordou, ainda bêbado, pediu por água! E quem estava lá leitor com um copo de água? Ela. A mãe que ele tinha matado na festa. Várias vezes ela levou água para o filho. De manhã quando acordou, já refeito da bebida, sentiu a cabeça um pouco dolorida. E parecia que havia uma banda tocando bumbo e ainda para ajudar era sem parar dentro da sua cabeça. Mas isso não o impediu de ouvir o pai falando para mãe:
- Joãozinho vai ver com com quantas cintadas se cura uma ressaca!
Tremeu ficou com medo de levantar! Os olhos das pessoas, em volta do fogo, delirava de alegria, porque o herói seria repreendido, iam coloca-lo no seu próprio lugar! As crianças ficaram com dó do Joãozinho, bom nem todas! Algumas queria ver a surra do moleque. As opiniões variavam entre uma conversa bem boa do pai até o limite da dor da surra. Outras achavam que ele já tinha passado das medidas e merecia algumas cintadas. E há os mais velhos que achavam que tinha de ser uma sova de marcar para o resto da vida! Os olhos do meu tio brilhava ao ver as pessoas falando sobre o caso, e, com muita criatividade, preparava o restante. Ele disse que chamou a mãe e pediu socorro para ela, clamou para que o livrasse da surra! Esta fala provocou um burburinho muito grande nos presentes! Queriam a mãe fora do caso. Falavam do que ele fez com a mãe e para mãe. A opinião era unânime: não deveria ajudá-lo! Ele tinha que pagar pelo erro cometido!
Ele reiniciou a história, defendendo o amor de mãe. A mãe, dizia ele, tem que estar em toda hora com o filho e foi o que ele disse a sua mãe na beira da cama tremendo de medo da surra prometida pelo pai. Sabe leitor que a mãe assumiu o erro de tê-lo largado lá!! Segundo o raciocínio dela, deveria tê-lo trazido mesmo que a força, ele era apenas um menino e não sabia o que estava fazendo, bebeu pela inexperiência de ser um garoto. Em resumo as cintadas que eram para ele foram para a mãe! Ela apanhou de cinto por não ter trazido o filho para casa naquele dia!
As caras das pessoa era de revolta. Onde já se viu uma mãe assumir um erro só para apanhar no lugar do filho? O meu tio ficou escutando as contestações e esperou, com a calma que lhe é peculiar, pediu licença para continuar quando a mesma mulher disse:
- Tudo isso é verdade?
- Por Deus do céu que está entre nós!!
Continuou a história. Logo quando ele casou, sempre ia na casa da mãe, moravam num sítio ali perto, quase todo os dias quando não ia com a mulher, ele passava sozinho na casa dela! Um dia a sua mulher estava de ovo virado parou de ir na casa da sogra e também o proibiu de ir sozinho. A mãe sentiu a falta do filho e passou a visitá-lo. Um dia a mulher estava de ovo virado novamente Disse para ele textualmente:
- Você precisa sair da barra da saia da sua mãe!
Ele respondeu:
- Eu não tô indo lá, é ela que vem aqui!
A mulher olhou com autoridade e retrucou:
- Fale para ela não vir!
Ele pensou e confirmou:
- É acho que vou ter que matar ela de novo!
Com um sorriso nos lábios a esposa completou:
- Acho bom! Não quero sogra metendo a falação na nossa vida de casado!
Um dia a mãe foi visitá-lo e ele disse um monte de coisas para ela: que ela estava atrapalhando a vida dele e tal e coisa e depois finalizou:
- Não venha mais na minha casa!
A mãe olhou para os dois e devolveu:
- Olha que eu não venho mais!
Ele olhou bem firme para ela e sentenciou:
- Por mim eu matei você!
Os entreolhares foi inevitável e sob todos os olhares inconformados dos presentes, ao redor do fogo, com o andar da história, não abriram a boca, muito embora se percebesse ao contrário! Queriam opinar, mas engoliram as palavras, Mas não o interromperam, aguardaram contrariados o desfecho! Meu tio parou! Pediu um copinho de pinga envelhecida no corote de canela, que o sobrinho guardava para tomar antes do almoço para abrir o apetite. Ele, o meu tio , já estava com os olhos marejados de lágrimas. A senhora vizinha soltou:
- Se a mãe tivesse levado imbora da festa, ele não bebia pinga hoje!
A pinga veio. Ele virou bem devagar como se estivesse pensando e ao mesmo tempo sofrendo com as revelações daquele momento. Pegou um graveto do fogo começou a revirar as brasas como se quisesse ver, naquela luz, a imagem da sua mãe! Olhou para os demais e falou:
- Eu matei minha mãe, um monte de veis quando eu era criança e ela não morria, depois quando rapazinho também matei ela um monte de veis e ela não morreu, depois de casado eu matei também um porção de veis e ela não morreu!
Ele começou a chorar e todos ficaram embasbacado com o desfecho da história! O Contador chorava que nem criança. Os olhares era de indecisão, não sabiam se pediam ou não para continuar a história. A emoção e o choro era grande e já tinham contaminado todos os presente. Ele se refez e encerrou com este desfecho. Assumira que matou a sua mãe todas as vezes que pode e ela sempre ressuscitava e estava com ele nas horas que mais precisasse E aprendeu que as mães morrem quando querem, não adianta fazer como todo mundo: querer matá-la. Hoje reclamava ela que não tinha mãe, Sob lágrimas torrenciais disse aos demais que a mãe havia morrido e não ressuscitava mais. A saudade dela era muito grande!!! Ficou ali sentado imóvel com o tronco do corpo só o braço direito mexia com as mãos através da vareta as brasas como se procurasse nas fagulhas a imagem de sua mãe. Ficou algum tempo calado. O silêncio era geral! Foi quando olhou para todos , ainda com a respiração entrecortada e com a face ainda escorrendo lágrimas abriu a boca e dela saiu estas palavras:
- Acabou-se a história! Hoje é dia de finados, é dia dos morto! Eu vou dormir para sonhar com a minha mãe. É só no sonho que ela ressuscita! Boa noite!!
(Santiago Derin)
Exercitar a leitura é alimentar o intelecto!!!