Ouve, o vento canta lá fora
A aragem trás o som do campo
E eu, imagino que a alma não chora
As gentes brincam e riem noite fora
O Alentejo floriu de novo, espanto
Sobressai do céu azul, inda agora
Ouve os sobreiros ondulam ao vento
e, os pastos murmuram extasiados
As estrelas brilham no firmamento
E eu, revejo-me criança, outro tempo
Uma trança solta, olhos esbugalhados
Querendo alcançar o mundo
O tempo é curto, muito curto
E o Alentejo empobrece
O mundo revê-se em tempos perdidos
As gentes caminham cansadas, entristece
A alma de quem chora, fingindo que canta, padece
Gritos mudos, em todos os olhares antigos
Como antiga é a ruga faminta
No semblante do homem velho
Ai Alentejo, quem quiser que sinta
O teu sangue a correr, crença extinta
Mas… o sol raiou, gritou liberdade, vermelho
Cor de papoila, floriu de novo
Nas asas de uma gaivota que veio ao sul
Trouxe um cravo vermelho, e o povo
Engalanou-se e saiu à rua, homem novo
O céu vestiu-se de azul
Assim as gentes cantaram e bailaram
Mas hoje no frio do Inverno… a terra chora
Alqueva, as águas brotaram
As almas de novo olvidaram
Mas… o sonho tarda a chegar, tarda a hora
E eu, recordo a criança, já cansada
É longa a espera,
Meu Deus, como tarda
O sonho adormece enquanto aguarda
Que o Alentejo floresça na Primavera
Antónia Ruivo
Era tão fácil a poesia evoluir, era deixa-la solta pelas valetas onde os cantoneiros a pudessem podar, sachar, dilacerar, sem que o poeta ficasse susceptibilizado.
Duas caras da mesma moeda:
Poetamaldito e seu apêndice ´´Zulmira´´
Julia_Soares u...