Como por estes dias vou comemorar os meus 78 Invernos, coloquei-me de frente para o espelho para ver se as rugas tinham o mesmo aspecto ou se também estavam a envelhecer.
Não, nem por isso, até fiquei admirado, não as via, mas verifiquei que a barba estava branca,não tinha pensado que já tinha besuntado a minha “frônha” com o gelo de barbear e quando vi o porquê, tive um ataque de rir, pois, não era a barba que estava branca, mas era sim o gelo de barbear.
Sempre e desde que me conheço, fiz a minha limpeza geral do corpo antes de tomar o pequeno almoço.
Mas hoje de manhã, nem sequer sei bem porquê, senti um apetite mórbido de comer, de comer tudo o que aparecesse e pensei então aos meus tempos de jovem em que não tinha problemas de apetite, nessa altura o apetite era enorme, era sempre a comer e quanto mais comia mais magro ficava.
Ai meu malandro, tu já estás velhote mas não tens que queixar, durante a tua vida comes-te muitas e boas, nesses tempos tinha muito apetite. Brancas, pretas, não era importante, e eu era muito guloso, pois não, pudera!
Com os anos acalmei, comecei a comer menos, já não saio de casa como antes e quando saio é sempre com a minha cara metade, não posso por isso entrar em certos terrenos que são um pouco sinuosos, mas sempre que posso, zás, lá como algumas.
Os anos são assim, como a história conhecida, a do Condor, com dor para aqui, com dor para lá e o melhor é só comer as que tenho em casa.
Em Portugal, comi que me fartei, sem nunca me fartar e sempre de borla, na Arruda dos Vinhos, como diria o Malato, fui muito feliz.
Aqui em França, também ainda no mês de Setembro fui dar uma volta e vai disto.
Agora, como dizia, com os anos, prefiro delas só o sumo. Um bom tinto do Alentejo, um bom Dão, um Alvarinho, enfim ir ás vinhas já lá vai o tempo e na Arruda dos Vinhos a vinha era do meu padrasto e da família dele, então aquilo é que era comer uvas, pretas e brancas, bem boas!
A. da fonseca