Na correria para compensar
o atraso do vôo da ponte aérea
comum, até inevitável, às segundas
driblando carros, motos na rua da Carioca
Eis que me deparo com um ambulante
Em uma cadeira de rodas automática
Me recordava antes de ter visto
Na Madison Avenue, em Nova Iorque
Conduzindo com cuidado nas calçadas
De pedras portuguesas da Cinelândia
Havia uma pessoa com ELA
Isto é: Esclerose lateral amiotrófica
Seu semblante me lembrou o físico
Stephen Hawking que recentemente partiu
Os passos largos mal cruzavam
Com os esforços daquela pessoa
Diminui o ritmo e observei que
ele vendia coisas simples e leves
que estavam bem organizadas
na frente e laterais da cadeira
Isto lhe permitia alcançar
cada peça que vendia
receber o dinheiro
e dar o troco.
Parei, trocamos um aperto de mãos
e comprei um pequeno urso
com as cores do flamengo
o sorriso dele foi tocante
Disse-me com muita dificuldade
que era a sua primeira venda do dia
e olhando para cima
convidou-me a agradecer a Deus
Quando preparava-se para dar o troco
disse para ele que não precisava
era minha primeira compra do ano
e que era uma honra ter comprado com ele
Ele disse-me que usava o dinheiro todo
para a manutenção da cadeira especial
que lhe garantia o direito de movimentar-se
com autonomia nas ruas e calçadas
Todo contorcido na cadeira
Fazia um esforço dramático
para falar e fazer gestos
que lhe pudesse fazer entender
Ao final disse para mim
que sempre estaria naquele trajeto
circulando com seus produtos e
que era importante não pedir
Fiquei deveras impressionado
com a dignidade, serenidade e altivez
do ambulante especial Sr. Edilberto
e a sua capacidade de superação, fé e determinação em viver...
Em meio aos meus problemas cotidianos
as dificuldades que havia tido na perícia
tornaram-se coisa pequena, sem importância
diante da grandeza do Sr. Edilberto.
A todas as pessoas portadoras de ELA - Esclerose Lateral Amiotrófica e de cuidados especiais, em geral.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 18 de Janeiro de 2010.