Encontro-me sentada no sofá. A música deixa rasto neste canto, não sendo por mim recebida. Sinto-me envolvida na volúpia que encontro no teu olhar. Teu olhar que acolhe o meu corpo. Meu corpo que te pede luxúria. Apetece-me vagabundear sobre a nossa intimidade que ambiciono. Peço ao passado que me traga o calor do teu pescoço, com o cheiro entranhado na derme. Ainda sinto teus lábios presos entre meus dentes. Ainda sinto o momento.
Desejo-te e não sei o que isso é; só sei que me estonteia de tanto me agarrar afincadamente a este desejo, não desejando perdê-lo. Será este desejo uma brisa que se transforma em tornado que me acorda, que me açoita os sentidos e me lembra que estou aqui? Será que dou permissão a este desejo coexistir porque desejo ter este desejo? Será este desejar o desejo que o faz sobreviver ou será o objecto do desejo que o aviva? Sinto que a serenidade já há muito foi escamoteada pelo desejo. Este não vive da ilusão, mas comporta a ilusão como vertente virtual, enquanto expressão da minha realidade vedada aos outros.
Em emoções sou de poucas certezas. Tudo me surge carregado de neblina, a razão e até as tuas expressões. Tenho só uma certeza: não desejo qualquer um e porquanto não é a busca de prazer o meu móbil. Não é a necessidade que me atormenta. A necessidade é limitada mas não o desejo. A necessidade de prazer não pode ser minha – eu sei-o.
Será que este desejo de prazer, que permiti insuflar com o tempo, aumenta pelo perigo que me deveria afastar dele? Por vezes penso que não pretendo a satisfação deste prazer, mas por outras acho que controlo o sentido do meu querer para fugir à culpa. Por vezes, as minhas insistentes entregas ao desejo deixam-me cair no fosso que própria cavei e que me faço enfrentar perante a censura moral, que condena o meu tão desejado desejo. Penso em culpa: culpa de um pensamento, de uma palavra, de um gesto, de um toque, de um coito, de um gemido... só sinto culpa porque o outro me pode culpar. Mas sei que sou fraca e que me deixo entregar facilmente ao erotismo, fugindo da culpa rapidamente, que me quer ceifar o desejo ... ai!, como me possui este desejo!! Rapidamente me faço encontrar com o sustentáculo que me mantém na vertical: este desejo.
Será este desejo um preenchimento de um tédio? Mas como pode o tédio ter espaço na minha vida, se tento nunca lhe dar espaço de coexistência? Até porque se assim fosse não escolheria eu o objecto de desejo bem mais acessível, para concretizar a satisfação de prazer? Pois, mas, não procuro prazer, é verdade. Sinto-me tão embrulhada em pensamentos. Sinto-me tão desejosa de me embrulhar em teus braços.
Ai!!
pessoa nenhuma (reside em mim)