ANJO
A sombra do anjo posto à minha frente, cresce.
E ele mantém a mesma altivez do anjo
Ele me olha e o seu olhar também aumentou
Ele me diz e sua voz me fere os tímpanos.
Então, de mim levanta-se uma agonia
Que se escondera no claro oposto
No lado de onde saiu o sol.
Eu nem cresço nem aumento, e me condeno
Do tamanho das aspirações do meu tempo.
Tudo no alto, triscando o céu, se eleva
E eu encolho, mas não decrescei.
Enquanto tive à frente do ente santo
Rezei as rezas aprendidas, entoei cantos
Como se comportam os desacretidados
Que crêem e vêem milagres nas castas puras.
Os que vivem nas alturas, que fazem sombras excomunais.
O anjo plainou o céu como um concorde
Até que furou as nuvens e entrou.
Mas sua sombra continua à minha frente
Como uma lembrança descabida.
Eu por obra e graça sua, não encolhi.
A minha sombra só, foi coberta pela sua.
Anjo, Anjo do céu, quando é que vens
De bem na terra, sem contrapor-se à luz,
Sem me impedir dee ver os campos,
De olhar o sol lindo, descendo,
De ver a lua bebendo as águas que evaporam.
Anjo, Anjo do céu, que voas longe, e vais ao léu,
Representa-me, junto aos eleitos, faz meu papel,
E diga a Deus, sentado à mesa na última ceia,
Que o que mais peço, o que mais quer a minha vida
E ser assim, como me viu, também, aí no céu.