SEGUNDO CANTO FÚNEBRE E INÚTIL PARA O HAITI (O RESCALDO, AGORA)

matilde,

as imagens são chocantes. e eu, pela profissão, pensei-me habituado a ver desgraças. mas o haiti acabou.

beijo, flor.

j.

amigo arlindo,

as imagens são terríveis, e eu, por dever de ofício, estou a habituado a ver tragédias. aqui em são paulo, por exemplo, nos bairros mais pobres, as chuvas têm feito danos terríveis. em são luís do paraitinga, uma cidade histórica, as casas foram literalmente engolidas pelas águas. mas o que aconteceu no haiti eu nunca vi. duvido que este país, o mais pobre da américa central, possa ser reconstruído. o haiti acabou.

abraço,

j.

julio...entendo a tua consternação.mas sou contrária,por uma questão de personalidade,a fatalismos que não levam a lugar algum.o haiti não acabou. é preciso,sim,alertar consciências.mas também é preciso acreditar e fazer.mudar mentalidades implica dizer "chega" e propor alternativas,construir.
tu ,que lutaste contra uma ditadura e a venceste com o teu sofrimento e o de muitos outros , com a força das tuas idéias e da tua acção, deverias ser o primeiro a constatar que o mundo sofre mudanças.e claro que toda a mudança acarreta consigo coisas boas e coisas más.de modo que, quando o mal se torna insustentável,é preciso mudar novamente.e mesmo que saibamos que nada nunca vai ser perfeito,temos obrigação moral de ter ideais,de acreditar e de contribuir com a nossa parte...
ou de resto o que propor?um suicídio colectivo?...

linda diana,

de zilda arns posso dizer, porque tive o privilégio de conviver, na época ditadura principalmente, com o irmão dela, dom paulo evaristo, o cardeal arns, que foi arcebispo de são paulo e uma das pessoas mais dignas e corajosas que conheci na vida. enfrentou a ditadura, desceu aos porões e desafiou o governo militar como ninguém. a morte do meu colega, o jornalista vladimir herzog, dentro de uma cela, por tortura, e dada, a princípio, como suicídio, só devidamente esclarecida graças à coragem do cardeal arns. esta coragem, esta solidariedade, são da família. quanto ao haiti, pelo que estou vendo, não creio em solução. na verdade este país, o mais pobre da américa central, já estava destruído há muito tempo. creio que o terremoto foi o tiro de misericórdia.

beijo, linda flor.

j.

minha poeta,
o haiti literalmente acabou. pela minha profissão, vi muita desgraça na vida. como esta, nunca.

beijo, linda flor.

j.

maria ivone,

me deu nojo ouvir e ver o presidente dos estados unidos na tv. quase vomitei. nunca vi tanta hipocrisia.

j.

tive ânsia de vômito ontem, quando ouvi o presidente dos estados unidos falar. bem, quanto a questão das maiúsculas, eu não as uso, assim como também não pontuo os meus poemas. a licença poética, que pode também ser licenciosidade, dá-me este direito.

abraço,

j.

mario,

querido amigo,
você acha que eu vou perder tempo a me preocupar com maiúsculas? eu nem pontuo os meus poemas. penso que a pontuação na poesia é o ritmo. depois, pelo amor de deus, amigo querido, em 1922, o poeta oswald de andrade, um dos principais articuladores do movimento modernista brasileiro, já não usava as maiúsculas e nem pontuava. não é invenção minha. depois rs rs não sou da escola de bilac.

abraço, irmão.

j.


ps: brasileiro com maiúscula é demais. haja patriotismo. ai, que me ufano. rs rs

mais um que assina...

Aconteceu alguma desgraça recente no Havaí???

maria eduarda,
morreu um país inteiro, ainda que tenha deixado sobreviventes.

beijo, flor.

j.

há hora que o poema deve ser seco, para que se torne verdade.

j.

helder, amigo,

sei que em 1855 algo semelhante ocorreu em lisboa, sou neto de portugueses. mas o que se deu no miserável haiti, acho impossível de haver reconstrução.o haiti acabou - definitivamente acabou.

j.

são cantos que eu não gostaria de ter cantado.

j.

pela minha mãe que morreu vai fazer uma semana: eu não gostaria, domingos, de ter escrito estes dois poemas para o haiti. não gostaria mesmo. não gostaria de ser porta-voz de um país que literalmente acabou.

j