Doce criança e sua sina
buscas, chamas, atinas,
no teu leito, em posição fetal
defende-se da sua dor
abortas inda em botão a tua flor
Terna criança e sua sina
clamas, gritas, birras
Mas, tuas mãos indefesas
que pedem proteção
recebem da família rejeição
Triste criança e sua sina
choras, reclamas, exausta adormeces
escondes as tuas chagas
acatas teu sofrimento
vences com obstinação nossa fraqueza
Para ti, por tua tenaz resistência
durante 5 anos à epidermólise bolhosa,
deixo esta mensagem em acróstico
como testemunho de que frente à dor, só o amor é o bálsamo que alivia...
J á te levamos ao jardim, a passeios, mas choras
A inda ontem sorriste, apoinado-se pra pegar bala
C omo seres que se escondem, fugimos de tua
I magem de dor, angústia, bolhas que nos assusta
M ares de úlceras a evocar os sentidos e repulsa
A inda pergunto até quando fizemos o que podíamos
R osa criança, perdoa nossa cisma, medo de sentir
o teu verdadeiro perfume...
AjAraújo, o médico e poeta humanista, escreve a respeito de uma criança com um doença muito rara, da qual veio a falecer, que evocou profundas reflexões em todos que cuidaram dela, escrito em outubro de 1979.