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. façam de conta que eu não estive cá .



olha: amanhã morreu.
foram-se as vozes na casa, as músicas na rádio, os corpos de baile, as roupas dos armários, os papéis de parede, as cerâmicas, os móveis. [foi-se a memória] dos beijos foram as bocas, dos gestos os braços, do corpo o coração, foi-se. e olha: amanhã morreu. deixa-o morrer amor, deixa-o morrer. ainda hás-de voltar a ter um coração. deixa-o morrer. foram-se as veias, o sangue nelas, o perfume dos dias a teu lado, foram-se as flores, as silvas, os prédios velhos, as fotografias. foram-se as estradas, os caminhos. [foi-se a memória] e olha amor: amanhã morreu.
 
Autor
Margarete
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 13/01/2010 22:58  Atualizado: 13/01/2010 22:58
Membro de honra
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Localidade: Braga
Mensagens: 8112
 Re: 86
quando as memórias se vão morre também o amanhã...muito bem pensado, melhor escrito...
Beijo

Enviado por Tópico
arfemo
Publicado: 14/01/2010 00:12  Atualizado: 14/01/2010 00:12
Colaborador
Usuário desde: 19/04/2009
Localidade:
Mensagens: 4812
 Re: 86
...o amanhã não morre, porque é tempo...quem morre é a gente se não muda, nem que seja a roupa dos armários...que os caminhos se medem pelos passos e não pela distância, que é abstracta e fria, ao contrario daqueles, que são gente...

mas entendi que falavas da memória...

bj
arfemo