a democracia, essa fantasia

lembrou-me:


"Fui dar com a democracia embalsamada, como
o cadáver do Lenine, a cheirar a formol e aguarrás,
numa cave da Europa. Despejavam-lhe por cima
unguentos e colónias, queimavam-lhe incensoe
haxixe, rezavam-lhe as obras completas do
Rousseau, do saint-just, do Vítor Hugo, e
o corpo não se mexia. Gritavam-lhe a liberdade,
a igualdade, a fraternidade, e a pobre morta
cheirava a cemitério, como se esperasse
autópsias que não vinham, relatórios, adêenes
que lhe dessem família e descendência. Esperei
que todos saíssem de ao pé dela, espreitei-lhe
o fundo de um olho, e vi que mexia. Peguei-lhe
na mão, pedi-lhe que acordasse, e vi-a tremer
os lábios, dizendo qualquer coisa. Um testamento?
a última verdade do mundo? «Que queres?»,
perguntei-lhe. E ela, quase viva: «Um cigarro!»"

Nuno Júdice, A Matéria do Poemas, Dom Quixote, 2008, p. 45

Obrigada. Como não fumo agora vou comer um chocolate, para me recompor. Beijinho

maravilha.o poema e a citação da mar.um deleite,ler-vos.

beijos!

Aqui no meu país existe boa poesia!

Beijocas

Aqui no meu país existe boa poesia!

Beijocas

Aqui no meu país existe boa poesia!

Beijocas

Conceição,

Muito ao teu jeito impetuoso, talhado a golpes de poesia vibrante e verdadeira.
Bem mereces um chocolate
Beijo

quantas vezes não dá vontade de escarrar sobre a fachada de que se veste esta democracia!

Soberbo poema!

beijo

São, adorei este poema.
E como o cansaço já se começa a instalar perdoa que me fique por aqui...
Beijinho
Vóny Ferreira

Vejo que herdamos muito de vocês! belo texto! Abraços!

Gostei imenso desse desabafo. Estamos todos cansados.
Eu, estou farto de dizer que me mudo para Espanha, um dia vou.
Já não aguento.
Beijo Conceição!
JLL

Alguém disse, e cito de cor, que a democracia, mesmo sendo um mau regime, ainda é o melhor de todos os que existem.
Sendo assim, isto confere responsabilidade a quem defende este regime, que é de todos, governantes e governados (e se há governantes que por vezes se governam e nos desgovernam, são os governados que escolhem aqueles que querem no poder). Há sempre a possibilidade de votar noutros, de se aprender com os erros, de se deixar de ser masoquista.
Como sofri o peso da ditadura, sinto-me melhor em democracia. Mas defendo uma democracia cívica, económica, social, cultural, etc.
E se ponderar na democracia que defendo e naquela que temos à mão, concedo que esta é, não digo uma "fantasia", mas uma quase oligarquia, ou seja, a democracia foi capturada pelos velhos & novos interesses, SA.
Mas só o povo pode pôr cobro a isso.
E este poema já é uma ajuda.

DM

Conceição, boa noite!

Isso tudo é verdade, mas mesmo assim ainda lutamos e no fundo no fundo, acreditamos que tudo pode mudar, senão de que adiantaria estarmos aqui, não é mesmo?

Beijos querida

Apesar de todos os defeitos que esta democracia fantasiosa tem, é preferível a uma ditadura real.
Se existe outro regime menos fantasioso que a democracia! Não conheço. Pode ser que algum sonhador o invente! QUEM SABE!

Gostei do texto!

Beijinhos

Gil

Olá Conceição.

O poema tem substãncia e muita oportunidade. Literariamente fico-me por aqui porque não serei o crítico mais habilitado.
Idiologicamente penso que o pior serviço que "esta" democracia nos presta é exactamente o de se autoproclamar como "única" sem alternativas. Como se a verdadeira democracia liberal e representativa não pudesse dispensar os partidos políticos e a corrupção. Quando a democracia representativa genuína dispensa a hegemonia dos profissionais da política e assenta nas associações culturais, profissionais, regionais...quando a dá plena independencia à justiça ...bem, dá para entender...

Parabéns

Bj

poema interventivo que apela à consciência democrata, à liberdade que díariamente a vimos ameaçada.

gostei desta mobilização de ideias.

beijo

Menina,

Teus versos cortantes cabem bem a democracia brasileira, que embora capenga ainda é melhor que a época da ditadura militar.Se bem, que por aqui valendo-se dos "Direitos Humanos" estão querendo censurar a imprensa, dar guarita para que foras da lei possam se apossar de propriedades privadas e outras coisitas mais... ;)
Bjims, Betha.

E a vida sem cartão de crédito. É para ler sem folégo é assim sua poesia. Amei. bjs