Abra o peito
Rasga o coração
Cordoalhas, válvulas
Em retalhos de tecido
No jornal apreendido
Na repressão...
Abra a estrada
Rasga a floresta
Na Transamazônica faraônica...
Coração e floresta
Vermelho sangue, verde seiva
Se derrama no terror consentido...
Escancara o peito e a utopia(Araguaia)
Em versos trêmulos, torturados
Ante a omissão sob o repressão...
Na rede, Macunaíma
Como o andar tupiniquim
Poemas lentos, cortados pela censura...
Nas vitrines da luxúria
Dormem à noite, os filhos da miséria
Onde o turista fotografa, seu souvenir...
Come giletes, engole espadas
Nos segundos preciosos do semáforo aberto
Em busca de algum trocado
Todavia, da original (e louca) tentativa
Raias de sangue jorram da garganta
E vergonha na grande platéia motorizada
Correm dos pobres, feito pragas urbanas
Nas praças de agonia, no teatro de rua
Onde o espetáculo maior é o encontro da miséria
com um vírus importado.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 1978.