Naquela noite fria e gelada, ninguém fazia prever que alguma criatura da terra, atravessa-se o deserto. Ninguém quis perder a oportunidade de ver o recém-nascido que muitos afirmavam, ser o salvador dos povos.
Francisco, um pastor que vivia no deserto, decidiu oferecer a Maria e José, um pequeno presente pelo nascimento do seu menino. Era tradição sempre que nascia alguém importante, oferecerem-se lembranças e saudar os recém-nascidos.
Mas o menino que nascera, não era um menino qualquer. Diziam os profetas, que com o nascimento de Jesus, os povos iriam partilhar o seu amor, as riquezas da terra seriam distribuídas por todos, acabaria o ódio, a inveja e o mal seriam banidos da face da terra.
O Burrito de Francisco, estava pronto para fazer a viagem. O pastor sentia-se desconfortado pelo frio que se fazia sentir naquela noite, mas a vontade e a alegria de conhecer Jesus, depressa fez com que ignorasse aquele sacrifício.
O seu Burrito, estava pronto para fazer a difícil viagem, nas areias do deserto. Tinha já consigo, praticamente tudo o que precisava, o presente para oferecer ao menino Jesus, também estava consigo no seu capote, não fosse á última da hora, esquecer o mais importante da sua viagem.
Despediu-se da mulher e lá seguiu para Jerusalém, também ele, para se juntar aos restantes peregrinos, que não quiseram deixar de estar presentes, naquela noite tão especial de Dezembro, para adorarem o menino de perto.
Consigo no pensamento, Francisco pensava na sua mulher e ao mesmo tempo, imaginava como seria aquele menino, de que ouvira tanta gente falar. Tudo corria na perfeição e no momento o que importunava mais, eram os ventos frios que se faziam sentir, que gelavam tudo á sua volta. O seu burrito era um animal valente e corajoso, mas tinha as suas limitações.
Francisco passado algum tempo, começou a aperceber-se que o seu animal, estava a espumar pela boca. Algo de mal se estava a passar com o seu companheiro de viagem.
Inevitavelmente, o burrito ajoelhou-se e de seguida caiu inanimado no chão, levando atrás de si o pesado pastor. Parece que o destino tinha pregado uma desagradável e terrível surpresa ao Pastor, não autorizando que o peregrino chegasse ao seu destino.
Francisco perdera o seu Burrito, para chegar á terra Santa. Uma tempestade de areia, surgiu também no momento, para complicar ainda mais as coisas. O Pastor naquele momento, tinha a sua própria vida em risco, tal era a fúria e o rápido avanço da tempestade.Com o frio, sem qualquer abrigo para se proteger, Francisco não teve outra alternativa se não, em abrigar-se no cadáver do seu falecido animal.
Aconchegou-se dentro das quatro patas do animal e ali permaneceu até que a sorte resolvesse o seu destino. Francisco encolhido, tremelicava e rezava para que Deus tivesse compaixão dele, tendo apenas por consolo, o presente que apertava contra si entre os braços gelados.
A pouco e pouco, foi perdendo a noção do tempo. O mau tempo, esse, foi acalmando e a tempestade de areia, parecia agora estar no fim. Francisco começou então a recuperar a temperatura do seu corpo, já não sentia tanto frio. Estranhamente, a cobertura que o envolvia mexeu-se, como se de uma bolsa de ar se tratasse.
Por breves momentos ficou com a sensação que alguém o tinha destapado. Mas já não fazia tanto vento, porque teria ficado a descoberto?
Foi então que teve a maior das felicidades:
O seu amigo e companheiro de viagem, estava agora nas quatro patas e soprava a poeira que se tinha alojado nas suas narinas. Não demorou muito tempo, a que o pastor abraça-se por largos momentos, a sua preciosa companhia.
O seu Burrito, estava vivo! Gritou alto e bom som aos céus:
- Obrigado Senhor!
Francisco e o seu Burrito, encorajados pelo milagre, lá continuaram viagem, mas desta vez, o Pastor decidiu acautelar-se e poupar o animal a qualquer esforço. Decidira não o montar. Não levou muito tempo, a que Francisco tivesse de novo outra agradável surpresa:
Bem á sua frente, estava uma enorme muralha, que pertencia a uma grande cidade. Com as dificuldades e o frio que passara, Francisco ficou sem orientação e acabou por perder a noção e o sentido, para que lado estaria a Terra Santa.
-Que alegria! Estava às portas de Jerusalém.
Brevemente iria terminar a sua missão.
Esqueceu-se definitivamente por tudo o que passara antes e agora as suas atenções, estavam voltadas, em descobrir o caminho, para chegar á cabana, onde Maria e José se encontravam com o seu menino.
De porta em porta, foi bem recebido por todas as criaturas que se aqueciam na primeira fogueira que encontrou. Chegado á Cabana, deslumbrou-se ao ver Jesus. Era realmente muito bonito! Reparou e estranhou, ver o menino Jesus, com tão pouca roupa no seu corpinho. Como poderia o recém-nascido, não ter frio e sobreviver àquela noite tão fria?
Entendeu então o porquê e o seu significado. Também ele sobrevivera às forças da natureza com o seu burrito. Tinha passado por uma prova de Fé.
GABRIEL REIS