Não são as lamúrias
Da minha experiência carnal
Que fazem meu espírito sucumbir.
Não são as alegorias
Das benfeitorias sensoriais
Que me fazem verdadeiramente sorrir.
Mas a contemplação do infinito,
A nossa herança cósmica,
Que arrancam os suspiros da minha alma.
O legado eterno neste corpo eutério,
Aquilo que nos aproxima das divindades,
E torna-me insignificante
Quando contemplativo.
Não é a Terra
Nem o firmamento.
Mas a linha talhada densa
E fina
Que os une
E separa.
É o amor
Tatuado na verdade
Que nos amedronta.
Pois não sabemos se a verdade liberta,
Tal qual a luz que cega.
A dor dos mortais
Não dói tanto quanto meus desejos imortais-
Não quero deixar legados,
Mas conduzi-los até o fim.
Porém, na clausura da minha matéria,
Infectado da doença dos justos,
Escondo a minha pele nua.
Envergonho-me da minha imagem de Deus,
E carrego minha esperança
Até quando me tornar aquilo que possuo.
Sou isso, enquanto todos-
Sou mais, enquanto indivíduo,
E pergunto-me:
Até onde chegaremos,
Se não sabemos o caminho de casa?
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros