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O burburinho que acordou a aldeia

 
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A aldeia acordou estremunhada pelo burburinho que parecia vir ali das bandas do quintal da tia Miquelina.
O que seria, o que não seria, o que raio se passaria num lugar tão remoto onde nunca acontece nada? Perguntava-se de boca em boca a caminho do local, cada vez mais barulhento à medida que se encurtava a distancia do caminho.
Chegados ao fundo das escadas e junto ao pequeno portão de ferro que resguardava a propriedade, juntava-se agora o povo em peso, decididos a desvendar o motivo que os fez acordar mais cedo e dar um pulo da cama, naquela manhã enevoada e aparentemente igual a todas as outras, não fosse aquele rebuliço infernal. Alguns traziam paus compridos, outros traziam pedras, outros sacholas e havia ainda quem tivesse trazido roçadoiras, não fosse o diabo tece-las e terem que desbravar caminho na perseguição do demónio que lhes deu cabo do sossego habitual.
O mais destemido abriu o portão mesmo sem licença da dona, que, curiosamente, ninguém tinha visto ainda e subiu o primeiro degrau, seguido pelos vizinhos em fila indiana, dispostos a tudo e sem medo do que quer que fosse que encontrassem ao cimo da escadaria, onde começava o quintal.
E foi vê-los de olhos arregalados de espanto e de queixos caídos, impedindo-os de articular qualquer palavra, pelo que ali encontraram...
Repolhos e alfaces com bocas que cantavam afinados num coro sem igual, cenouras nabos e rabanetes que se esgueiravam da terra e rodopiavam uns com os outros, numa espécie de bailado nupcial, flores que tocavam violino, lírios que sopravam em flautas, tomateiros e pimenteiros que assobiavam, abóboras e pepinos que tocavam em harpas até então inimagináveis, macieiras e nogueiras que batiam palmas com as suas folhas e uma ajudinha do vento, batateiras que sorriam e coelhos que se juntavam à festa com ar de convidados de honra, saltitando contentes num frenezim imparável pelo meio de todo aquele palco surreal e deixando os aldeões sem reacção nem sequer para se arredarem e deixarem passar a procissão da passarada que em menos de nada cruzou o céu e pousou em tudo o que era lado, soltando o seu canto magistral e ensurdecendo os ouvidos de todos, que, desta forma se viram obrigados a recuar sem poderem fazer mais nada.
E a tia Miquelina, que além de ser dona do quintal também era mouca e por isso ninguém a viu, continuava a dormir como se nada fosse, alheia a todo aquele arraial matinal que acontecia ali, no seu quintal!...


*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

Impulsos

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Este texto só aconteceu porque gostei do novo vídeo do Robbie Williams e fui escrevendo, escrevendo...
 
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cleo
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Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 06/01/2010 13:19  Atualizado: 06/01/2010 13:19
Colaborador
Usuário desde: 19/10/2008
Localidade: Lisboa
Mensagens: 3731
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
Cleo,

Dentro so surrealismo, existe a verdade.


Como sempre...a minha vénia.

bj
Eduarda


Enviado por Tópico
Betha Mendonça
Publicado: 06/01/2010 15:38  Atualizado: 06/01/2010 15:38
Colaborador
Usuário desde: 30/06/2009
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Mensagens: 6700
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
Cleo,
Um conto fantástico que mexe com o leitor até a descoberta da mágica orquestra e seus sons.Bonito, bem escrito e criativo!Favorito. :)
Bjins, Betha.


Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 06/01/2010 16:24  Atualizado: 06/01/2010 16:24
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
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Mensagens: 3482
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
E foste escrevendo muito bem

Quero um quintal destes para mim, pode ser?

Fantástica imaginação!

beijinhos


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/01/2010 17:41  Atualizado: 06/01/2010 17:41
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
Cleo, mais um texto fantástico, com uma história encantadora.
Fizeste-me lembrar aqueles desenhos animados do walt Disney.
És sempre fantástica a transformar o belo ainda mais belo.
Beijo Cleo
JLL


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/01/2010 17:45  Atualizado: 06/01/2010 17:46
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
Se já andava renitente quanto a comer carne, agora fiquei quanto aos vegetais e culpa tua se ficar à mingua por ler este escrito.
Um sonho bonito Cleo.
Um beijo


Enviado por Tópico
paulogomes
Publicado: 06/01/2010 19:25  Atualizado: 06/01/2010 19:25
Muito Participativo
Usuário desde: 27/08/2008
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Mensagens: 63
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
Um belo texto! Muito bom em imaginação!
Beijos


Enviado por Tópico
arfemo
Publicado: 06/01/2010 20:49  Atualizado: 06/01/2010 20:49
Colaborador
Usuário desde: 19/04/2009
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Mensagens: 4812
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
...surreal nada: aos vegetais sobra-lhes animação que falta aos demais (pelo menos a aquilatar por certas festas de passagens de ano...). Texto delicioso (e ademais gostei daquele pormenor da "ajudinha do vento" que prova que estavas bem acordada)...

beijo, Cleo

arfemo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/01/2010 22:27  Atualizado: 06/01/2010 22:27
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
Ola cleo.

Eu quero um quintal assim. Belo conto o teu, sempre com a tua marca de qualidade.


Beijo azul


Enviado por Tópico
Lara Adam
Publicado: 07/01/2010 09:06  Atualizado: 07/01/2010 09:06
Da casa!
Usuário desde: 16/05/2008
Localidade: Ponte de Lima
Mensagens: 405
 Re: O burburinho que acordou a aldeia
Eu gosto destes textos, quando se lê é como se estivesse a vivê-los! Muito bonito. Beijinho.