Poemas : 

ARADOS DO MUNDO

 
ARADO DO MUNDO

Tantas vezes passei a mão
Por sobre os olhos
De olhos fechado,
Na ilusão de quando abrisse
Abrissem à minha volta
Um campo plantado,
Vidas espalhadas
Com os pendões da mesma altura.
Mas isso é sonho, criatura...
Ninguém muda o que se avista errado,
Nem com os olhos abertos
Engolindo água do rosto.
Que conta vantagens pro mundo
O que está posto, imutável.

Passou um urubu
E faz do meu chapéu seu urinol.
E ficou branco, mas eu só vou ver em casa,
Quando puxar as pernas da calça,
Largar a camisa empretecida
De roçar nos galhos queimados,
Juntados para fazer a cerca,
Para proteger do gado,
Do gado alheio.
O meu rebanho voa por cima de mim
Não muge, não pisoteia o plantio
Também não dá leite.
As vezes, propositadamente,
Eu passo a mão fechada, segurando o cutelo
Por sobre os olhos.
E é quase desesperador, o desejo
De arregalar-me e outro mundo esteja aberto.

 
Autor
Naeno
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