Era uma vez um esquilo, que vivia muito próximo da Floresta Encantada. Apesar dos diferentes mamiforos que habitam a Floresta, todos os animais dão-se bem, vivendo em paz e harmonia. A alguns anos atrás, chegou àquela Floresta, uma pequena comunidade de animais castores, que ali se instalaram para construírem as suas residências e não mais saíram, até aos dias de hoje. Não é surpresa por isso, vermos aqueles simpáticos animais, um pouco por toda parte e em grande número.
São os castores que partilham com os outros animais, os trabalhos de abate das árvores e limpeza da Floresta, assim como a construção do dique, para suster as águas de um rio, que se encontra ali próximo.
Quando rompe a aurora, o esquilo Biba, pega na sua machadinha, merenda e dirige-se para a Floresta Encantada, para ajudar os seus amigos. O Rio ameaça assustadoramente alagar toda a Floresta, por isso, todos os animais são poucos para a construção do dique.
Um belo dia, quando Biba chegou á clareira da Floresta Encantada, foi confrontado por um enorme grupo de aves, que pareciam muito zangadas.
Queixavam-se ao Castor Horácio, por alguém ter derrubado as suas árvores, que lhes servia de abrigo e protecção das noites frias e geladas.
Os Carraçeiros e os Estorninhos, a maior parte das aves brancas que ao final da tarde se recolhem nas árvores para passarem a noite, estavam bastante exaltados. As corujas e os mochos estavam um pouco mais calmos, mas também faziam algum alarido. Não demorou muito tempo a que as corujas, fossem injuriadas por um casal de Pica-paus, que rapidamente lhes chamou Vá dias, por andarem praticamente todas as noites fora das árvores.
O Castor Horácio, acabou por explicar ao grupo de manifestantes, que tinha sido por engano, o derrube das duas árvores que lhes serviam de moradia.
Mas os ânimos estavam tão exaltados que a passarada decidiu desferir tremendas bicadas no pobre do Horácio. Foi então que Biba, observando que o seu amigo castor estava em apuros, saiu em seu socorro.
Empunhou a machadinha e atirando-a com toda a força, esta foi prender-se numa Azinheira que ali estava muito próxima dos prevaricadores. As corujas foram as primeiras a fugir e abandonaram o local. Já os Carraçeiros e os seus amigos, esvoaçaram e levantaram, voo pousando logo de seguida, na árvore mais próxima. O Carraçeiro mais medroso, reparando que lhe caíra uma pena do rabo, gritou:
- Chiça! - Que susto!
Horácio, agradeceu a preciosa ajuda do seu amigo esquilo e da machadinha também, enquanto o olhar atento da passarada bastante furiosa, os observava, parecendo não ter qualquer vontade arredar pé.
Foi então que no momento, surgiu o Mocho Sabichão, que possuidor de grande sabedoria, se prontificou em ajudar, apresentando de imediato, uma solução aos dois amigos:
- Porque não pedem ajuda às aves Carraçeiros e aos seus amigos, que perderam seus abrigos, para participarem convosco na construção do dique?
- Com certeza que seriam muito úteis, sempre existem locais no lago de difícil acesso, onde não é possível nenhum outro animal lá chegar. Depois, para os compensar da sua perca, sempre os poderiam deixar ocupar o enorme canavial que está perto das vossas residências. Reparo algumas noites, que lá pernoitam os Patos Dourados e os Cisnes.
Os Carraçeiros ouvindo a sugestão do sábio mocho, levantaram voo e como sinal de concordância, dirigiram-se todos para o famoso canavial. As canas davam um soberbo abrigo a qualquer bicharada, além disso, estavam muito perto do lago, o que vinha mesmo a calhar, para a passarada que gostava de diferenciar as suas refeições, mas tudo isso, só seria possível se todos os castores o consentissem.
E assim foi. O castor Horácio, falou com a restante comunidade de castores, que nada tiveram contra a preciosa ajuda daquelas aves Carraçeiras e dos seus amigos, na construção do dique e de se prontificarem a ir aos locais mais perigosos do lago.
Com o passar dos anos, os castores habituaram-se á presença daquelas aves. Ao cair da tarde, os castores observam os enormes bandos de pássaros que recolhem ao canavial para passarem a noite, não consentindo que alguém os importune.
GABRIEL REIS