A lua adormecia na nossa pele
Como uma suave nota musical
Naquela noite tão linda e serena!
Sentados num banco de jardim
Espraiávamos os sentidos
Numa onda marítima amena.
- O mar é tão lindo! – Disse-te.
- O mar é lindo! – Disseste.
Ali mesmo
Sobre o nosso amor
Um poema escreveste!
- Porque não vivemos juntos
Como todos os que se amam?
Desejas-me e desejo-te…
Porque não selamos a vida
No recanto deste jardim?
No teu olhar vibrou uma corda de medo:
- O mundo! Que pensará de mim?!
Hoje, como sempre,
Conto os minutos e os passos
Deambulando pelas ruas
Chamando por alguém…
Sempre esta vontade enorme
De amar e ser amado
E nunca ter ninguém!
Estendo os braços para tocar-te
Humilho-me para que venhas
Pergunto a quem passa por ti…
Em nenhuma distância te encontro
Em nenhuma estátua te vejo
Ninguém te conhece…
Mais e mais
A minha fisionomia se entristece…
Lembro-me das longas noites
No aconchego da cama
Sedentos de sexo e loucura
Como quem procura
A corda bamba duma verdade
Que transcendesse os valores morais
Fosse luz no breu do preconceito
Para que ambos, de mãos abertas
Escrevêssemos no livro da vida
Sobre todas as linhas tortas
Apenas palavras certas!
Desculpa, esqueci-me
Que o nosso amor não pode existir
Tão pouco ser amado…!
Se vivemos uma mentira
Então sofro que verdade?
Diga-me o mundo!
Estou tão cansado…
António Casado
Revisto para o Luso Poemas
3 Setembro 1984