Meus olhos pregaram-se naquele vidro esverdeado! Um rótulo colado sobre o mesmo denunciava o desenho escuro daquele crânio horroroso. Imagem sempre presente de um auto-retrato póstumo. Imediatamente fiz a metamorfose. Meu espelho me diz do leque de um sorriso rosado, natural ou amarelo de vez em quando. E quando frente a êle esgarço o rosto, reivento-o, decomponho-o, caminho pelos cantos da boca, observo se os dentes estão sentados em seus lugares...assim já imagino que o anfiteatro esteja lotado, e cada um ocupando o seu lugar...o espetáculo terá probabilidades de sucesso, porque haverá platéia. Ainda, frente ao espelho ritualizo as madeixas de claros cabelos cor de colméia, ah, imagine todas as abelhas parindo sobre a sua cabeça de girassol...que sucesso de idéias, vivaah!!!, mas agora estou imaginando-os mais escuros...é que sempre erro a cor da tinta do mundo, e quando acerto a nuance, tremo com a pincelada... Penso que apesar de não conseguir desviar o olhar desse vidro venenoso, o quotidiano deve ser sempre reinventado, sob pena de ele nos desinventar. Dessa forma, é preciso reescavar cenários...mas esse vidro me diz que há que se ter alerta com o perigo, pois contém veneno e a imagem da caveira sempre me horripila e nunca consigo imaginar que sou ela, que ela também me é...Assim, fico literalmente com os olhos pregados como cravos na cruz do meu próprio olhar. Aquele vidro contém veneno e dentro dele uma curiosa figura aponta um signo que conheço: é a balança da Justiça. Tem dois pratos e um fiel (infiel) a desequilibrar-lhe sempre o peso. Cuidado: Veneno! Lembrei-me agora...estou no átrio do Forum...