ANJO MEU
Anjo meu, saudade minha, flor em botão,
Que a Vida não ousou abrir, por tão sagrada.
Ar que me falta, supremo sopro, luz ansiada,
Por que suspira um terço do meu coração...
Anjo alado, doce boneca de porcelana,
Que divino toque animou em requebros doces,
Foste água fresca qu' evaporou em celeste chama,
Amor-menina, jovem, mulher, quem dera fosses!
Esses teus lábios de doces beijos de passarinhos,
Esses teus olhos de luz de estrelas, a cintilar,
São puras jóias de que só guardo terna saudade,
Eterno brilho que em mim lavra, mas que não arde,
Eterno anjo que Deus quis acarinhar,
Mas que deixou tão quente e doce minh'alma-ninho!!
Teresa Teixeira
(PASSOU MAIS UM NATAL)
Minha estrelinha maga...
Há tantos dias que não deposito nem uma pequena pedrinha semi-preciosa no cofrezinho que fiz teu bragal...
Sabes que, do início do Inverno até passar o Natal, sinto sempre a tua presença mais forte. Aí pelo dia 1 de Novembro, quando semeio a tua campa rasa de rosas brancas, até não se ver nem um pedacinho de terra inerte, começa a minha descida... Daí até ao Natal, vai-me tomando, aos poucos, uma melancolia subtil, um laço de saudade que vai apertando, apertando... Os cânticos embalam-me uma dor que ganhou raízes e as luzes tremeluzentes não conseguem iluminar o meu Inverno...Voltam-me à memória tantos outros Natais, em que parte de mim morria contigo, e outra, solicitada pela minha responsabilidade familiar, ensaiava sorrir, brincar... vibrar, enfim, com os cânticos, as luzes, as prendas... Mas sei que tenho de pedir perdão aos meus filhinhos amados pelo Natais em que eu não estive completamente com eles. Perdão, meus filhos, perdão por tantas coisas que só vocês compreendem e pelas que só eu posso compreender... Amo-vos tanto, nunca vocês saberão quanto vos devo a minha vida e o meu equilíbrio! Vocês dois são o tributo mais precioso que lego ao Mundo, nesta minha curta e insignificante passagem pela Vida! E tu, Dianinha, és o tributo que eu leguei aos Céus...
Talvez me deva sentir ditosa por isso, quem sabe...
Mas, neste vigésimo aniversário da tua morte, sinto-me ainda tão dorida e revoltada...
Fecho os olhos e imagino-te, nos teus graciosos vinte e dois anos... Através da vidraça viva das minhas lágrimas, metamorfoseio o teu rostinho delicado de bebé num rosto belo, de jovem mulher... Imagino o teu corpinho franzino e sempre de uma elasticidade irrequieta, tranformar-se em formas perfeitas, de nobre porte... vejo os teus cabelos de seda soltarem-se dos totós onde eu os aprisionava, e voarem em volta dos teus olhos meigos e grandes, como beija-flores, em adoração serena... Sonho os beijos leves, carregados de amor, que a tua boca talhada em botão-de-rosa me daria ainda...
Oh, minha filha, sonho tanto! Mas se não fossem os meus sonhos, como seria a minha vida??
...E deixo os sonhos viver, lado a lado com as minhas dores... e, sabes um segredo? - Nas minhas (tantas!) horas amargas, nunca deixei de sentir a tua ternura, gravada para sempre na minha alma, naquele dia em que eu chorava, derrubada pela minha Vida madrasta, no chão da cozinha, daquela casa onde morávamos... lembras-te, filha? Tu, pequenininha, nem ainda com dois anos, foste buscar uma almofada para me colocares nas costas, consolando-me com um "Pom... pom, mãe... (pronto, pronto, mãe...)"... Ah, como dói essa lembrança!... Como posso deixar de chorar-te?!
Terça-feira, 8 de Janeiro de 2008