Insignificância pura, esta que sinto
Como uma maçã no meio de um pomar.
Excepto que eu já caí e vejo as outras,
Lá em cima,
A crescer cada vez mais. E eu aqui
No chão sem conseguir subir
Nem crescer… Nem ser…
Sinto que por dentro estou cada vez mais podre
Como se tivesse em mim todo o doce do mundo,
Que é todo o amor que tenho p’ra dar,
E de repente secasse cada vez mais
À medida que o Tempo passa
E que eu passo pelo Tempo.
Sinto uma tremenda solidão. Tão grande
Não no mundo, mas no que ele me dá, e
Naquilo que sou dentro dele. Tão grande,
Tão maciça que nela cabem todos e tudo
E mesmo assim nada me faz companhia. Porque
Por mais acompanhado que esteja por fora,
Estou sozinho cá dentro, e é cá dentro que o que há
É como se não houvesse.
É cá dentro… É cá dentro que tudo nasce,
E onde tudo acaba por morrer. É cá dentro que nasce a inspiração
Para ajudar os outros. E morre a inspiração para me ajudar a mim.
É cá dentro que nasce a esperança do melhor
Mas é cá dentro que ela morre, a cada dia que passa
E que não encontra o prometido. O prometido
Que desejo dia e noite, e luto, e arranco com força.
O prometido que os outros cumprem, mas que
Em mim apenas é prometido.
É cá dentro que está a solidão que ninguém completa,
A tristeza que ninguém entende,
Os pensamentos que todos julgam insanos,
O desejo que se diz ser banal,
A visão do mundo que ninguém Vê.
Porque é uma bênção ser cego, e ignorante
Mas não ver a cores o mundo que se esconde,
Num olhar ou num gesto,
Não reparar nesses pequenos pormenores,
Em que o amor se revela
É morrer, não é estar vivo.