Aguarda paciente a tua vez
No silêncio de olhares que se interrogam
Nos ruídos de passos que se cruzam
Ainda agora preparando-se para os exames
Relaxam o corpo na cadeira
Na interminável espera
João, Maria e a pequena Monalisa
O velho, a jovem mãe e a criança
Gerações na mesma engrenagem da vida
Nas mãos calejadas, espalmadas
Nas rugas, franze o fronte de dor e incerteza
No suór que escorre, no choro da inocente
És chamada, enfim, uma vez mais sofre
Nos aparelhos a invadir os labirintos do corpo
Na triste sina de ser paciente
O sofrimento parece uma reação em cadeia
No lar insalubre, desnutrição, tipicas da aldeia
Da pobreza, abandono a que está relegada nossa gente...
Ao médico cabe um difícil papel de bombeiro
No combate à febre, à dor, à diarréia, ao catarro
Mas, a saúde e a educação nunca foram prioridade neste país...
AjAraújo, o médico e poeta humanista, em um hospital público infantil em Outubro de 1979.