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Noite de tormentos

 
Noites de tormento,
Nenhum alento...

Recolher-se no silêncio do outono
Em uma terra de rei sem trono...

Observar as folhas que voam
E distantes caem e se amontoam...

Como os rebentos que nascem
E, que ofegantes perecem...

Da centenária árvore pós-colonial
Se robustece mas, não dá seiva a seus brotos

Noites de cefaléias
Sem o perfume das flores de bromélias

Rolar a cabeça insisto
Ao sono desafio o visto...

E, ter na fome e na miséria
Sua sina, de José a Quitéria...

E corar ante a corrupção descarada
Não ver a cor da grana em paraísos fiscais lavada...

Ante a contumaz sangria das riquezas nacionais
Desde os tempos das capitanias hereditárias

E, diante da contínua exploração
Indiferentes marcham trôpegos sem ração ou reação...

Porém, dos troncos ceifados
Das matas e ventres, surgem arados...

Quem vêm despertar a ira, inda que feito bandos
Contra o império da desordem dos desmandos...

E, o que dizer desta mixórdia
De tanta insensatez, insensibilidade e luxúria?

Estar no limite, de não mais suportar
O constante estado de guerra silenciosa abortar...

Deste consentido genocídio,
Deste infinito e indevassável latifuúndio...

Acumular de um lado dores, rancores, bolores,
De outro desprezo, cobres, dólares, euros...

Afinal, vivemos em um país cuja presteza
É se orgulhar de pagar a conta à sua alteza...

Insone, ter medo de dormir, enfrentar pesadelos
Snolência, cegueira, surdez social nos faz tolos

Sonhos, melhor não tê-los em verdade
Pois, ao acordar estamos diante da realidade

Com certeza de viver no país das espertezas
Das mil e um noites de incertezas...

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 1988, revisitado em 2001.
 
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AjAraujo
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