Vivendo na ilusão,
De viver uma aventura.
Viveste na solidão,
E tiveste uma vida dura.
Vida de cão é assim,
Vivendo na ilusão.
Mas vivendo até ao fim,
Nunca passando de um cão.
Rastejando para a morte.
Tal e qual, vida de cão.
Que é abandonado á sorte,
Mas que lambe sempre a mão.
Nunca morde a mão ao dono.
Lambendo-lhe sempre a mão.
Não dorme, e não tem sono.
Só para mostrar gratidão.
É cão que conhece o dono.
Não é nenhum cão vadio.
E o que tem sempre de abono,
É porque liga ao assobio.
É um cão bem educado.
Domesticado á maneira.
Mas que vive isolado,
Numa vida traiçoeira.
Pensamentos de um cão.
Que sempre á custa aprendeu.
Mas foi esta a lição,
Que nunca mais esqueceu.
Este cão já aprendeu,
Que quem manda é o dono.
Mais um dia, que não comeu.
Nunca dorme, e não tem sono.
Mostra assim o seu valor,
Quase morrendo de sono.
Mas nunca tem o amor,
Nem a amizade do dono.
Quase bicho ignorado.
Vai roendo mais um osso.
E vive sempre calado.
Vivendo quase num fosso.
Cão que é sempre fiel,
É cão que é sempre amigo.
A vida quase sabe a fel,
Quando se é cão sem abrigo.
Quando a fome mais aperta,
Sem forças nem para ganir.
Com uma atitude esperta,
Deita-se para dormir.
Não vale a pena ladrar,
Se nada há para comer.
Mas ainda vai cá estar,
Para muita mão lamber.
Enquanto dá a lambidela,
Não chega a ser mal tratado.
E mesmo que seja cadela,
Não é bicho abandonado.
Não é preciso ter medo,
Já basta ter que ser cão.
Nunca é tarde, nem cedo.
A vida é uma ilusão.
Nesta vida que se arrasta,
Mas na qual já não te ris.
Um osso, é quanto basta,
Para tu estares feliz.
Ter um osso para roer,
É melhor que não ter nada.
E já é bom poder viver,
Sem levar sempre porrada.
São pensamentos de um cão,
Que nunca foi bem tratado.
Chamado de estimação,
Mas que nunca foi estimado.
zeninumi /7/2007
zeninumi.