Por ironias do destino,
Ou maldições do passado.
Passas tudo a pente fino,
Mas não vais a nenhum lado.
Só te calha o que não presta.
O que está podre, ou estragado.
E sempre só o que resta,
É que vem para o teu lado.
Tu tens sempre que pagar,
Tudo aquilo que consomes.
E vais sempre descontar,
Do teu trabalho, ou não comes.
Tens é sempre que pagar,
Até o que não se come.
Passas a vida a descontar,
E quando és velho, passas fome.
Há mais um dia que passa,
Igual a tantos que passamos.
E como que por chalaça,
Somos nós, que nos matamos.
Dá para parar e pensar.
Perder uns minutos na vida.
E poder assim analisar,
A maldade nela contida.
Derretes a inteligência,
Pensando no que está mal.
Mas com a tua inocência,
Tens sempre o mesmo final.
Tu só inventas é histórias,
Que fazem com que te esquives.
São ilusões ilusórias,
As que tu pensas que vives.
Quem trabalha é miserável,
Morrendo a trabalhar.
Vivendo sempre instável,
A trabalhar no que calhar.
Descontando no salário,
O que não é nenhum petisco.
Há sempre um, mais salafrário,
Que tenta a fuga ao Fisco.
Mas quando é apanhado,
Há sempre uma boa desculpa.
Em nada se sente culpado.
Em nada disto tem culpa.
Esqueceu-se de pagar.
De repente ficou surda.
Tu vai-te mas é cagar.
Desculpa mais absurda.
Há uma certa ironia,
Nisto a que chamam vida.
Nunca havendo alegria,
Na hora da despedida.
E vive-se uma vida inteira,
A comer para viver.
Quando há sempre uma maneira,
Em que se acaba por morrer.
Durante esse tempo todo,
Tu só tens é que pagar.
E saber andar no lodo,
Sem nunca escorregar.
Porque se um dia tropeças,
Começas a escorregar.
Disso tu nunca te esqueças,
Ou pagas sempre a dobrar.
E o que é pago a dobrar,
Tem um preço muito caro.
Por ele tu vais pagar,
O preço de artigo raro.
Pagando a raridade,
Do que não tem qualidade.
Na tua simplicidade,
Vives na vulgaridade.
zeninumi 6/7/2007
zeninumi.