Que desinteresse ridículo
daquilo que é branco e solto.
Perdi as estrelas
que viviam nos meus olhos,
deixei-as por aí algures
na imensidão deste abismo
que atropela o dia de amanhã.
Talvez
a mão tenha o significado
que tanto procuro,
desde que nasci ditou-me o futuro.
Talvez
o bloqueio da fonte áspera
dos pensamentos
forme bouquets de palavras
de todas as cores
enlaçados por aquilo
a que chamamos de teoria.
O futuro
entorna-se pelos próximos dias,
entorna-se de secura e calor,
de aquecimento e morte,
mesmo escorrendo a chuva nos cabelos.
E tu não penses que te vais salvar,
porque bebeste da mesma fonte que eu,
és tão culpado como quem se esconde
nas sombras da própria vida.
O deserto chega com fome.
O deserto devora
o verde esperança do tal amanhã.
Já não vale a pena chorar
porque as lágrimas já não fazem mar.
Do grito só o eco toma forma
porque ao mastigarmos o prazer sufocámos a vida.
Agora
está na hora de ajeitar a noite
para que durma o amor pela vida que ainda persiste.