O sol nasceu para todos
contudo a sombra nem tanto
só coube ao nordestino
um pobre e rasgado manto
assim, os raios do Astro-rei
não obedecem essa lei
e lá queimam e causam pranto
Não creio nessa estória
que o sertanejo é um forte
é somente um esquecido
que ousou nascer no Norte
e muitos para sobreviver
fazem promessas pra chover
esperando mudar a sorte
Porém, anos após anos
chega o mesmo sofrimento
no tempo da estiagem
morrem a cabra e seu jumento
vem o Governo pressuroso
tentando ser caridoso
mas é só fogo de momento
O coitado do retirante
fica na mão do Deus-dará
seus filhos choram com fome
a mulher começa a lamentar
lá fora o sol inclemente
primo pobre da enchente
parece que o chão vai queimar
Esmurrar ponta de faca
ter o pão que o diabo amassou
fazer das tripas coração
viver instantes de horror
quanto mais passam os anos
aumentam seus desenganos
incrementando sua dor
Quando a seca esturrica
a pequena roça plantada
os açudes vão secando
fica a terra devastada
e como cego em tiroteio
tão indefeso e lá no meio
tem a vida ameaçada
Porém se cai muita chuva
e o inverno vira enchente
o sofrer se intensifica
nada fica diferente
é como se dessem vacina
ao invés de vitamina
a quem já se encontra doente
Tanto faz seca, enchente,
são duas calamidades
que estão sempre presentes
quase sempre, cedo, tarde,
que sina mais desvairada
que Região desolada
que tanta desigualdade
Falando sobre Nordeste
refiro-me ao campesino
nunca sobre políticos
que levam a vida sorrindo
pois dinheiro não lhes falta
alguns formam uma malta
como bandos de porcinos
Nunca dos comerciantes
ou jamais dos industriais
mas dos pobres sertanejos
que cultivam os milharais
só dependem do que plantam
tanto choram quanto cantam
nos açudes, nos matagais
Estes sim, são sofredores,
os esquecidos da Nação
que trabalham dia e noite
na nobre luta pelo pão
mas se tornam retirantes
uns pobres desafiantes
da natureza do sertão
Gilbamar de Oliveira Bezerra