O calendário cansou-se dos traços bem definidos
Que a caneta do passado sulcava
Em cada folha, em cada ansiedade…
A lua fartou-se da janela escancarada
Por onde descia neutra e severa
Para acalentar a minha alma.
Enroscava-me em cada raio
Perdia-me em cada afago
Vivia a minha louca solidão!
Hoje quero relatar ao mundo o meu segredo!
Perco-me nele como um delinquente
Sou louco como toda a gente
Tenho a certeza de não estar errado
Nem de ter medo!
Dispo-me diante do mundo como de ti
Abro os braços e sou como sou:
Igual em humanidade!
Porém, mais solto, mais quente,
Animado pelo desejo que provocas…
- No cimo de uma pétala de rosa
Vou gritar que te amo a toda a gente!
O meu corpo é um mito!
Um símbolo da mitologia Grega!
Destranquem as portas da felicidade!
Nas asas da liberdade
Cantem hossanas ao amor num grito!
Esta ânsia de te mostrar ao mundo é um punhal!
Uma tortura atroz este segredo!
Se te desejo cada vez mais
Se te quero cada vez mais
Porque terei de o viver em silêncio?
Que maior felicidade poderá haver no mundo
De biombos e sorrisos lascivos
Que o amor puro de dois seres que se amam
Que por se amar estão vivos?
Oh como é bom amor sentir o teu perfume
Belo, fascinante, rebelde, aliciador…
Ardo em desejo até ao limite da vida!
Queimo-me em prazer até ao limite da dor!
António Casado
Revisto para o Luso Poemas
1 Setembro 1984