Poemas : 

[não posso esquecer]

 
não posso esquecer
a língua no dédalo dos dias
de ofício concreto
rotineiro
do corpo entregue ao ritmo das sirenes
das incansáveis máquinas fabris
de autocarros comboios seus horários

não posso
a língua arde porque cria
o poema
o homem dentro do poema
a explicação do mundo
mesmo quando outro é o mundo
que o poema revela

não posso e questiono
por que veias corre célere
a linguagem

por que paredes muros de breu
de gritos agrilhoados
gestos amordaçados
se cravam as unhas de um verso
de um verso verdadeiro

pergunto porque não posso
esquecer esquecer-me
da mão que pede a palavra pão
e que não entra no poema

como metáfora de advogado
que entrando justiça pede
e sai ajeitando a toga
pelo dever cumprido

não posso não quero não hei-de
esquecer

a palavra é uma arma e o signo ogiva
e um poeta
poeta de facto
é terrorista suicida
que explode dentro de cada sílaba

porque um poeta
poeta de facto
tem a memória por pele



Xavier Zarco

 
Autor
Xavier_Zarco
 
Texto
Data
Leituras
786
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
3
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
antóniocasado
Publicado: 23/12/2009 15:05  Atualizado: 23/12/2009 15:05
Colaborador
Usuário desde: 29/11/2009
Localidade:
Mensagens: 1656
 Re: [não posso esquecer]
Ola

Faço suas as minhas palavras. Ser poeta é o grito, não vale a pena alegarem surdez!

Muito lindo e profundo.
antóniocasado

Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 23/12/2009 15:56  Atualizado: 23/12/2009 15:56
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: [não posso esquecer] para xavierzarco
sim.um poema TAMBÉM é isto.

abraço.

alex

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/02/2010 14:27  Atualizado: 14/02/2010 14:27
 Re: [não posso esquecer] para Xavier Zarco
Impossível esquecer mesmo!
Gostei muito