- Ouves a chuva a cair?
- Sim.
- Trouxe uns amigos com ela…
- Quem?
- A saraiva, o vento e um relógio.
- Um relógio? Para que serve um relógio?
- Não sei, mas ouvi dizer que é para o tempo não andar tão rápido. Sabes que depressa a chuva trás a noite, o sol trás o dia.
- Sim, eu sei. A chuva costuma – me sussurrar baixinho umas certas palavras, do qual tenho medo. Umas vezes parecem um vuuuuuuu, outras um foooo, Não me admira que tenha amigos, eles devem ter medo dela!
- Medo não! Respeito…Ainda és muito novinha para entender a chuva, para entender quem são os verdadeiros amigos, quem está sempre perto dela.
- Dizes isso de uma forma..parece que a admiras, bastante!
- Não, só a entendo um pouco. Não sei de onde ela vêm, para onde vai. Mas uns dias passa por aqui para nos regar, outros dias temos o sol para nos ajudar a acordar. Pela manhã é lindo vê-lo a acordar e é triste vê-lo ir embora, fico com frio.
- E, quando eu posso ver o sol nascer mamã?
- Quando fores independente.
- Como vou ser independente mamã?
- Não queiras ser tão depressa, Minha querida tudo tem o seu tempo, em breve vais saber andar por ai aos trambolhões, dás a volta ao mundo e regressas a casa.
- Mamã..
- Sim.
- Mas eu não quero dar a volta ao mundo sem ti.
- Não te preocupes, não te vou deixar, vou estar sempre juntinho de ti. Somos inseparáveis, por onde eu for, tu vais. Somos apenas uma gotinhas de água.
- Somos?
- Sim somos.
- Vamos então juntar-nos ir seguir com a chuva o caminho que ela nos traça.
- E para onde vamos?
- Desta vez vamos ver o Pai Natal.
Iolanda Neiva
(muitas vezes falo só para mim,
e escrevo para que alguém me ouça)