A galinha disse ao galo
que corria atrás dela
"você me come agora
mas depois vai pra panela
e tão-logo está em cima
num segundo já termina
o gozo no meio da goela"
"Essa alegria é fugaz,
bem depressa esqueceu
não é melhor ficar na sua,
olhe, já amoleceu!
Você vai pro seu cantinho
fico em paz no meu ninho,
guarde o seu que fecho o meu
Porém o galo, excitado,
sendo dono do terreiro,
o macho que ali mandava,
o alfa do galinheiro,
elevou o bico bem alto
de repente deu um salto
e sentou no dela traseiro
"Deixa de ser idiota
galinha mais atrevida
vá abrindo as perninhas
pra você não tem saída
como você num repente
mesmo não sendo com dente
isso é o gostoso da vida"
"À merda se acaba logo
assim manda a natureza
logo vou comer de novo
é nisso que está a beleza,
sim, acaba num segundo
mas é a melhor coisa do mundo
você pode ter certeza"
"Sei que vou par'a panela,
todos nós um dia vamos,
hoje sou eu, amanhã você,
não é assim que terminamos?
Não tente bancar a charmosa
pois nós sofre mas nós goza,
um do outro desfrutamos"
"Portanto, relaxe e goze,
aproveite a ocasião,
esse pouco que vivemos
que seja na sofreguidão,
é bom dez pássaros voando
e nós bestas aqui só olhando
ou melhor segurar dois na mão?"
"Quem nos bota na panela
bem melhor do que nós não é
pois do jeito que lhe como
transa ele com a mulher,
e ainda que leiam salmos
são postos em sete palmos
ou são enterrados em pé"
Enquanto o galo falava
nem bem um segundo passou
porque logo, satisfeito,
aquela transa terminou,
ele bateu asas feliz
mesmo o gozo sendo um triz,
só lhe importava que gozou
A galinha não quis confirmar,
não daria o braço a torcer,
mas ficou claro que gostou
mesmo transando sem querer,
"eita pai-dégua de galo!
foi gostoso mas não falo,
se ele quer, volto a fazer"
Gilbamar de Oliveira Bezerra