Vou escrevendo meus versos
debaixo da oiticica
ao abrigo dessa sombra
pensando comer canjica
mas não sou pretensioso
versejo porque é gostoso
não almejo rima rica
Palavras chegam voando
como aviões de platina
eu agarro cada uma
enquanto troco de rima
se ficar no céu é do santo
caindo aqui é meu canto
em rasgando é da menina
Não tenho qualquer pretensão
de ser poeta moderno
nunca fui de roupa nobre
nem mesmo sei vestir terno
boto a viola no ombro
e sob os restos do escombro
meu poema eu governo
Porque sou feito de pedra
cara feia eu não temo
risco de faca apago
os dois braços são meu remo
minhas pernas são de chumbo
eu me viro, me arrumo,
olhando a morte não tremo
Meus olhos são duas chamas
na vida pegando fogo
danço conforme a música
não entro liso no jogo
se paquero uma mulher
em vendo que ela me quer
nem me lembro mais do troco
Não nasci de sete meses
nem só nas coxas fui feito
não tenho papas na língua
não escondo meus defeitos
só quero andar na linha
pra mim é canja de galinha
faço tudo do meu jeito
Tão depressa pass'a vida
parecendo um furacão
quando menos se espera
vem um infarto no coração
se alguém chega à velhice
pensa, triste, "que tolice
vivi somente ilusão"
Melhor, então, aproveitar
essa quimera de viver
as ilusões são ternura
que só amenizam o sofrer
vamos fantasias gerar
e mergulhemos no sonhar
para semear o conhecer
Desprezemos preconceitos
amemos o entendimento
ajudemos quem precisa
apagando o sofrimento
conjuguemos o verbo amar
pois quando a vida terminar
por que arrependimento?
Eu choro porque sou homem
compreendo quando perco
tanto piso em sala chique
quanto ando no esterco
tenho grande admiração
por quem costuma dar a mão
a quem todos dão desprezo
Se alguém não me respeita
esse deixa de existir
amizade é via dupla
ser bom amigo é dividir
apego e consideração
os momentos de comunhão
é bom com o outro repartir
Gilbamar de Oliveira Bezerra