Sobre a luz decepada
Dos candeeiros obscuros,
Dança-se o presente
Inexistente,
O agreste consumar
Do futuro sem viver,
Do vazio por inventar.
Pensei ver ao longe
Uma tenda de circo
Feita de precedentes,
Um problema sem solução
Para os resistentes.
Era apenas ilusão,
Que a arte se perdeu
Quando o palhaço
Nos pariu,
Rasgado de sangue e dor.
Morreu para nos deixar
Afogados em amor
Sem abrigo,
Sem saída.
Falta-nos expelir o amargo fel,
Construir a tenda de circo enegrecida
Pelo natural cansar de tanto ser.
Falta ferrugem para os pregos, falta sentir a oxidação junto às cavidades oculares onde um dia palpitaram meios de ver o mundo. Falta desconstruir o edifício que teima em não ruir, para que haja feiras e romarias, procissões pagãs ao convento do que se escondeu. Depois, no altar, evocaremos a luz que das trevas surgirá para nos salvar da insolação que nos ataca dia após dia.