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. setenta e dois .

 


. façam de conta que eu não estive cá .






e então o corpo correu pela praça, sentou-se membro por membro no passeio e começou a soletrar o asfalto. primeiro foram as pedras depenadas que nem pombos, depois um ou outro charco salgado como uma lágrima e, mais tarde, já a noite lhe comia as peles, ergueu-se nas palmas e desceu a rua, foi sentar-se à margem de um coração, sem fazer barulho, para não acordar os ventrículos. no fundo sempre foi um contador de histórias sem boca, fala com os dentes rente aos pés, perde os sentido e, antes de adormecer, encosta as orelhas ao lado esquerdo do peito.
 
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Margarete
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Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 18/12/2009 19:40  Atualizado: 18/12/2009 19:40
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 Re: . setenta e dois .
já é tarde,digo eu.enquanto, as mãos lavam as poeiras de outras magoas.e o corpo nocturno está cansado de ser constantemente usado.devoradores de plantas ósseas comem a sonolência e o coração das cidades etéreas.e a dor vem em telefonemas de tosse e rouquidão de quem salta o amor.debruço-me assim neste vento gélido e deixo que os grãos vivos desta ferida sosseguem-me por momentos.retorno a casa.

Enviado por Tópico
GE3
Publicado: 18/12/2009 21:31  Atualizado: 18/12/2009 21:31
Da casa!
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 Re: . setenta e dois .
um puzzle de teatro!, que como a vida, existe aos cantos de um desejo feito de poderes.
sabes o que o peito, do lado esquerdo, diz? diz tão-somente o que a orelha quer ouvir - que a vida é esse puzzle de teatro, que nos contrata, sem que deixemos... e a vida, como o texto, acontece.

abraço
jag

Enviado por Tópico
arfemo
Publicado: 18/12/2009 22:43  Atualizado: 18/12/2009 22:43
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 Re: . setenta e dois .
...ele há corpos assim: inventam-nos, falam e sentem como nós...e até são "lamechas" (pois senão porque se iriam encostar ao lado esquerdo do coração...e não da razão, que na verdade nem eu sei onde fica...)

beijo Margarete e BOAS FESTAS
arfemo