Apresento um poema em forma de oração de Laurette Sejourné sobre a transformação do médico em humanista em antológica viagem pelo continente da América do Sul e, em líder libertário dos povos oprimidos.
Parte 2. Oração...
Em que fase de tua infância foste marcado pela fulminante visão do homem
Como fazedor de seu destino?
Em que momento tu viste a opacidade desgarrar-se e revelar-se à mensagem?
Em que idade soubestes a data de tua imolação e teu sinal de valor universal?
Muito pronto, sem dúvida.
A idade terna da espontaneidade jubilosa,
desses impulsos que os adultos ignoram,
dessa pureza radiante
que foram teus até na morte.
Profeta de um combativo amor ao próximo,
De um implacável juízo terrestre,
Da reencarnação em um companheiro,
Não estavas feito para os lentos trânsitos,
para a paciente repetição das tarefas,
para os eternos recomeços.
Visionário dos dias do por vir,
Tua coincidência no mundo foi alcançada
somente através de uns poucos eleitos
E durou o instante de uma vitória.
Todas as cadeias rotas e abertas,
todas as portas,
A liberdade era tua cifra e a chave de tua transparência:
Soberania de eleger tua vida,
Travessuras que aos mandarins incomodam,
Marcha alegre até o previsto final.
Calvário e paixão de Valle Grande,
O escândalo de teu rosto coberto de olhos ímpios e de teu corpo sem sepultura
Queimaram as últimas etapas,
Três dias depois de caído,
Germinava já teu prodigioso exemplo
E tua presença é para sempre imortal.
Laurette Sejourné – Oración sobre Che, Casa de Las Américas – Habana – Cuba (tradução livre por Alberto José de Araújo.
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