Um presente de Natal (carta)- (EC)
Hoje iniciei dezembro pensando em nós. Pensando no tempo, aquele tempo que deixamos lá atrás, todinho por nós conquistado. A minha espera por ti. O tempo sozinha que elaborava tua vinda, a tão ansiada aparição. Revi por ti o tempo que levaste até me convencer de nós.Do quanto éramos possíveis. E divaguei por entre o prazo de validade que vivemos em plena harmonia, pelo que o estendemos. Então fechei os olhos...
Respirei, retirei do rosto os óculos, chorei...
Chorei tua ausência, não só o armário vazio, a cama arrumada, o corpo seco, desidratado de amor. Chorei pelas flores que pensamos e plantamos juntos, que ao estender os olhos pela janela, são lindas, alegres, e não combinam com nossa decisão de sermos sós.
Por isso vim até o computador e decidi te escrever esse e-mail, “carta-e-mail” (avancei na tecnologia). O primeiro em quase um ano que te foste.Hoje sei tão pouco de ti. És vazio em mim. Vazio de mim. Afastei o lixeiro ao lado da mesa, coloquei primeiro o medo, medo que tu não me compreendas, depois coloquei algumas mágoas, não todas, mas lá, no lixeirinho fizeram companhia um para o outro: certo receio, uma boa dose de orgulho, e fechei a tampa. Pus até um peso em cima. Assim me senti mais segura.Agora parecia mais limpa.
E com certo conforto para me dizer para ti. Folga no tumultuado coração.
Na cozinha pego um café bem forte e venho, é a hora da minha verdade. De me contar sem vestes ou prisões para ti. Peço, vai até o fim. Não para não, não cansa, persiste.
Não interrompe essa leitura, deixa que minhas palavras cheguem gentis, honestas até teu coração.
O meu é saudoso do teu. Confesso.
Não é um pedido, aqui é um refletir, apenas querer te contar que a falta é um grande conjunto vazio, quem sabe infinito. Uma casa sem sombras,sons, ausente de cores.As cores tuas os teus sons.
Aqui estou desprovida de sentimentos ruins. Já os pus fora. Vim para te dizer que o tempo tem operado coisas boas significativas em mim e quero partilhar contigo.
Dizer-te que tuas reclamações não foram em vão. Hoje me amo mais, cuido do conteúdo e do invólucro. Os ajustes que tu rogavas, eu os fiz pela dor. Doeram muito, mas a vontade de mudar é que me moveu. De certo terás orgulho quando me reencontrares, Não porque sou uma mulher magra, saudável, que cuida do corpo, não porque faço análise, controlo a depressão, o medo, não porque durmo mais e melhor, não também porque me desfiz de alguns pesos interiores e exteriores. Não só por essas razões., mas por um rol de providências que tomei nos meus sentimentos. Agora são melhores, mais amáveis e seguros. Agora efetivamente sei quem sou. Em mim há uma lucidez que se impõe e uma mulher mais centrada. Não, mas não era isso que queria efetivamente te dizer. É mais. Muito mais. É que anseio por saber das tuas mudanças aquelas que te cobrava as tuas melhoras, ainda que poucas eram de algum incômodo na relação. Anseio simplesmente saber de ti. Como estás?Como vás?Como passaram tantos dias, como foi esse transcorrer?Desde o Natal passado quando te fostes. Como estás?
Nunca mais e por opção, por todo o processo quis ter com alguém que fosse me falar de ti. Precisava desse real isolamento. Eu precisava. Precisava me sentir péssima, a pior pessoa abandonada do mundo. Depois precisava me sentir livre, sem nada, ninguém a cobrar, depois precisava me sentir bem, dona da própria vida. Eu precisava. Era mister.
Precisava me fazer feliz. Ter um caso de amor comigo. Amar meu cheiro, minhas rugas, minhas aptidões, dificuldades. Amar a pessoa que sou, amar meu sorriso,amar minha existência, se assim não fosse, não sobreviveria.
Hoje, 01 de dezembro, tive um lampejo de tristeza, quando pensei no Natal triste que tive, que tivemos, quando me presenteaste com a tua partida. Era necessária, eu sei. Hoje é límpido e perfeito isso para mim.
Acima das expectativas esse será de certo um mês bom, eu sinto, eu sei. Eu nos prometo.
Preciso só te falar que paralelo a tudo que transcorreu não houve nenhum dia nesses quase 365 decorridos que eu não tivesse me socorrido da saudade que embalou cada noite sem ti.
Estou feliz. Porque vou poder te contar isso, e te dizer o quanto importas para mim. O quanto esse tempo me fez ver isso. Não peço que volte, venha, nem chance. Isso é febril e dolorido. Jamais pediria. Quero e me reconheças novamente, me reencontres aquela do passado por quem te apaixonaste e a de hoje que certamente também te fará apaixonar. Não sei se é proposta( isso é coisa do rei), nem sei se é só saudade de saber “ como vai você” que também é coisa do rei. Sei que é apenas e tão somente um imenso indescritível desejo de recomeçar. E isso inclui a possibilidade de nós.
Se chegou até aqui, é porque estou, estamos começando a trilhar um novo caminho, esse é um passo difícil. Conceder algo. Seja lá o que for um mínimo tempo que seja para escrever, ler. Quem sabe esse caminho nos reconduzirá a um encontro. A vida tem disso.
O Natal triste ficou para trás.
Belém, Cidade das Mangueiras, de um país que chama Pará, em 01 de dezembro de 2009.
A flor...
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Um Infeliz Natal.
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