Este dia é último e é meu,
O único que não estarei.
Não quero vozes falsas
(Sabem as que podem falar)
Aceito flores, coroas,
Sentimentos de culpa;
Os vossos não.
O que restar do fogo que me consumirá
Dividam em partes.
Um pouco no solo de onde brota uma árvore.
Na Roca, quero voar em tons cinza,
Dispersar-me,
Ser do Mundo sem o ter em mim.
Alterem a consciência,
Riam-se de episódios passados.
Bebam a dor e esqueçam-na.
Fiz o que podia fazer.
Não são necessários hinos ou elegias,
Serei tão somente eu.
Agradeço a todos os que tentaram,
Grito o perdão que não pode ser perdoado.
Enovelei sentimentos fortes
Todos ancorados a vós.
Este novo que vos entrego
Traz vestes velhas.
Vem de tempos idos,
E tudo o que se lhe seguiu.
Nada de mais,
O que era deixou de o ser.
Não respeito leis,
Não há ordem.
Não deviam ver isto,
E menos senti-lo.
Partirei sem saber ao certo
Quão árido se pode tornar o vosso deserto.
Se possível (que não o é)
Toda e qualquer memória de mim.
Toda. Começando na existência,
Um início de anos atrás.
Não existi, não fui.
Apaguem-nas.
Droguei-me com as massas,
Enebriei-me em desgraças.
Nem tudo comportam os olhos,
Tudo isto à minha volta...
... informação excessiva
Violadora de todos os sentidos.
Se me esquecesse o Mundo
Nem número mais seria.
O que me fez continuar em todos estes dias desfocados
Foram outros sentidos.
O cansaço intrinseco, o arrasto.
Ali só posso estar eu.
A falésia do Mundo,
Último mergulho.
Queda magnífica
Angélica.
16/06/2009