Crónicas : 

QUARTO DE DEFUNTO

 
Lá pelos lados de Pernambuco, mais precisamente na zona canavieira; havia (não sei se ainda há) um costume bem interessante: quando morria algum morador do engenho, os parentes se dirigiam ao delegado de polícia e pediam licença para rezar num “quarto de defunto”. Com a licença concedida pelo delegado, vão até um boteco (ou budega, ou ainda bolicho) e compram de oito a dez garrafas de aguardente, das piores, e um ou dois quilos de bolacha comum, marca popular. Passam então a noite toda cantando as ladainhas e ofícios, tomando aguardente e comendo bolacha.

Não raro, lá pelas tantas, o “quarto” ficava um pouco mais “alegre”. Uns e outros começavam a contar anedotas de gente que já morreu e que na hora de descer para a cova voltou à vida, entre outras. A viúva nem tempo tinha de chorar, atendendo um aqui, outro ali, outro acolá, chegava até a esquecer do finado.
Tinham o privilégio de «tirar», entre uma caneca e outras, as ladainhas e ofícios aqueles que sabiam ler:

“Uma incelência pra ele
Desce um anjo do céu vem lhe vê
Espera aí meu anjo do senhor
Eu vou pro céu mais você."
...............................

Este ritual de cantorias está arraigado ao espírito do povo nordestino. No caso do “quarto de defunto”, segundo alguns pesquisadores, não se sabe a origem.

Eu fico aqui, imaginando... Se participasse daquela cantoria no «quarto de defunto» — o que não seria nada ruim — sairia para o enterro, no mínimo, engatinhando, se conseguisse sair.

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Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário.
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RSérgio

 
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