Há gestos que nos doem. Gestos que nos trazem uma nostalgia qualquer, a consciência de um desejo profundo, tão escondido, tão denso a cada segundo. Não são necessárias palavras, nem sequer olhares. O gesto basta, e já dói demasiado.
Quantas vezes nos consentimos iludir para podermos desviar para caminhos perdidos as nossas angústias? Doamos ao vento as tristezas que não nos podem pertencer, e esperamos, do mais fundo da nossa alma, que a brisa leve, também, os desejos pisados que guardamos a sete chaves. E cerramos os lábios com medo que nos fujam as palavras que sempre ansiámos confessar.
Mas há gestos que nos fazem lembrar de nós próprios. Que nos fazem lembrar, ainda, de quem já não somos, e não podemos voltar a ser. Que não nos deixam esquecer os sonhos incontidos que tentamos desfazer em pétalas secas. Calcam na ferida e deitam por terra qualquer lampejo de força, fazem-nos pensar naquilo que já tínhamos desistido, e, contra a nossa vontade, reacedem o fogo verde da esperança desmedida (que acaba sempre por queimar...). Gestos que anseio, que temo.
E sabe-se o que se segue. Um toque tão leve e profundo, um raio de sol num cravo vermelho e lágrimas, num ritual de libertação e acorrentamento que se há-de repetir infinitamente até que tudo seque e não reste mais nada. O alívio do esquecimento, do longínquo e o desfocar do pensamento. Mais nada. Mas, até lá, a chuva há-de cair cem mil vezes, e, por isso, há gestos que doem.
Diana Guerra