Teresa fez uma pausa, inspirou fundo, passou uma mão aberta pela vasta cabeleira preta, mordeu ligeiramente o lábio superior e continuou, fixando-me com o olhar terno e triste de uma mulher incompreendida:
- Até um certo ponto era capaz de encenar e de representar bem o papel que era suposto, mas havia um momento em que já não havia regras ou convenções e ele agia como um alucinado.
- Desculpe interromper.-disse eu. Não perca o fio à meada. Importa-se de concretizar? Com circunstâncias de tempo, lugar, modo? Com factos?
- Compreendo. Vou tentar. Uma vez, estava eu aqui a ler um trabalho sobre Crítica do Gosto, de Galvano della Volpe e Carrancas chegou, algo esbaforido, cumprimentou-me com um beijo, foi pôr um tango na aparelhagem, agarrou-me e puxou-me para dançar. Tudo sem dizermos palavra e eu desconfiada e eu descalça, em camisa de dormir, sem soutien. Entreguei-me nos braços dele e fechei os olhos como um fardo. Nem sei se adormeci. Quando a música acabou, o silêncio foi tão grande que senti uma excitação anormal e abri os olhos. Carrancas preparava-se para me possuir sem prévio aviso. Inclinou-me sobre a mesa e forçou-me a um coito anal. Tentei resistir, mas ele forçou-me. Foi muito doloroso e houve derrame de sangue. Depois constatei que parte da hemorragia foi provocada por um corte no pénis, por ter apanhado um pêlo.