I
Quem toma pra si
as dores
que porventura são minhas:
- o rumor das ausências
que os telhados do tempo
visita?
Quem sobrevoa o cerrado
no estimulante voo guarida:
- o quero-quero solidário
que ao sinal de perigo avisa?
Quem resiste à aridez
no semblante do tépido dia:
- caviúnas e lobeiras
com seus braços retorcidos
simulando acrobacias?
Quem ilumina uma fatia
desse mundo submerso:
- a luz da poetisa
rompendo o prisma adverso?
Ah, Cora Coralina
como admitir tua partida
se em todos os recantos
do poema
te apresentas tão bela
quão viva?
II
As águas do Rio Vermelho
na antiga Vila Boa de Goiás
teus primeiros passos ainda vigiam
e as peregrinações em solo paulista
repletas estão
de poemas e simplicidade.
Tardiamente reconhecida
burlaste tempo e espaço
e, hoje, repousas tranqüila
na imortalidade.