Traiçoeira como os covardes ela aparece de súbito e seu emergir inesperado é fatal. Pode ser numa manhã ensolarada, no entardecer de lindo crepúsculo, sob a luz do luar ou na madrugada silenciosa. Às vezes em meio a um esplendoroso sorriso, no êxtase do amor, a qualquer momento. A escolha é dela, melhor não depender de seu humor macabro. Porque a chave que fecha para sempre a alegria de viver, sem qualquer possibilidade de retorno, está em suas mãos poderosas. E quando ela a coloca na fechadura da eternidade selou o destino da criatura escolhida para aquele instante. Desconhecida, impiedosa, infalível, complexa, repentina. Por isso, muitos a temem e jamais se arriscam a falar sobre as probabilidades de sua presença em derredor.
O mundo a conhece desde tempos imemoriais e a história está repleta de seus frutos. Decerto que é feia, horrorosa mesmo, sem variação, não dialoga, somente espreita e ataca com a fúria indomável das feras dos pesadelos, sendo ela um dos maiores a provocar calafrios em quem respira. Ao seu surgir, lágrimas e tristeza vem por companhia indelével de modo a provocar desânimo, lamentos, gritos de dor e saudade. Ela é perversa, incontroversa, iniludível, a ameaça pairando sobre todas as cabeças, a espada de Dâmocles prestes a perfurar crânios e atravessar essa perfeita estrutura vívida, eivada de tantas infinitas possibilidades, porém frágil folha seca que a brisa varre e tudo pisa, sobre ela desaba e esquece.
Todos a temem e detestam, embora a esperem dia após dia buscando ou não no horizonte os traços de sua presença indesejável, seus rastros e odores inconfundíveis. Contudo, por razões óbvias, é cristalino que ela não pode ser vislumbrada além de nós, posto que à guisa de bomba-relógio já está programada para fluir naturalmente em cada um e acontecer. No tempo certo, nas mais insólitas circunstâncias, por vezes na plenitude da felicidade conquistada. Então um após outro o ser humano vai seguindo seus passos rumo à eternidade.
Gilbamar de Oliveira Bezerra