Entro na saudade como em minha casa aberta.
Antes do pátio tem sete lâmpadas
como uma mesma luz de um mesmo azeite.
Nada estranho, nem passo, nem hora.
Em seus bojos ardem as recordações
as nostalgias e seu emaranhado de doces vozes
e aquele escudo antigo que pertence aos mortos.
Ah! sua estranha fragância.
Ah! a delícia de seus olhos cerrados
como um descoberto céu de violetas.
Seus ouvidos abertos como um vale que recorda
a primeira árvore nascida.
Nela hei estado. E em meu sonho cai
sua cabeleira opaca, fina, lentamente
lambendo com sua lingua de azeite e mel o rosto.
É um belo fantasma girando em torno,
na velha dança azul da tristeza,
tudo em meu costado, seu campo de pesadelos,
sua pequena cidade criada na madrugada
onde os caminhantes buscam a magia da luz.
Nela o alfabeto quer letras distintas,
a voz busca e não encontra sua inaugural palavra,
para nomear as mãos da recém nascida
criatura dolorosa, resplendor do esquecido.
E chamo as amapolas, o córrego, os pequeninos.
Longe os pares, as espadas, o homem.
Agora cai a agulha do relógio dos anjos
e olho lentos reflexos ao fundo do espelho.
Hei de apagar as lâmpadas e ouvir seu mandamento.
Ai, se não a escuto
com seu manto funesto me cobrirá a morte.
Rui Garcia