Ah, essa navalha nas palavras
A dilacerar tua carne.
Essa ácida saliva em chuva corrosiva
A dissolver a tinta que enfeitava tua fachada.
Por que não sou mais apenas flores?
Por que não mais retiro delas os espinhos?
Tuas mãos estão feridas
E teu sangue esvai-se pelos braços...
Braços níveos qual porcelana fina.
Ah, esses punhais monossilábicos,
Essas interjeições em quádruplo sentido.
Meus olhos têm muito a dizer,
Minha pele, energia a oferecer,
No entanto, serei eu somente faca?
Carinho. Eis o que tenho.
Admiração. Amor, quem sabe.
A natureza apesar de bela
Tem suas intempéries.
Tenho meus infortúnios.
Mas haverá, como sempre houve,
Manhãs lindas...
Tardes ensolaradas.
Frederico Salvo