Cai a noite, nas ruas de Veneza. Candeias de outros tempos, substituem a luz do dia, proporcionando um ambiente romântico a esta magnífica e bonita cidade.
Mozzeli, um mendigo conhecido das ruas, aproveita a desertificação, para procurar algo para confortar o seu estômago.
Os gatos vadios, seguem-no em fila Indiana, esperançados em receberem algum donativo, daquela criatura de bom coração, que reparte o pouco que encontra, com os felinos que lhe fazem companhia.
Olhando a escuridão do céu, Mozzeli, compara aquela noite de Natal, com tantas outras, que já passou. Está um pouco mais fria,em comparação à do ano passado, pensou ele. Mas a verdade é que o frio não o incomoda assim tanto. Tem pelo menos três camisolas de lã por dentro do seu casaco e isso basta-lhe. O que lhe incomoda de facto, isso sim, é a desconfortável dor no estômago.
A hora naquele momento, não é muito favorável
para que as pessoas deitem os seus restos fora.
Talvez só depois de toda a gente tomar as refeições, arranje alguma coisa para comer, pensou, reparando que no interior de um contentor, não estava absolutamente nada.
Aproveitou para passar uma das pontes, para o outro lado da rua. Sentou-se então num dos degraus da ponte e ali ficou sentado, a aguardar que a sorte o visitasse. Inevitavelmente deixou-se dormir.
Foi então acordado por um sujeito, que se apresentava de trajes um pouco estranhos, para aquela época natalícia. Tratava-se de alguém, que procurava um seu amigo naquela cidade, com o nome de Carlo Vozzeli, que já não via á imenso tempo. Mozzeli lamentou-se por não poder ajudar aquele estranho sujeito.
Não conhecia o homem, nem ouvira falar, do nome de semelhante pessoa.
Por via das dúvidas, o estranho deixou um pedaço de papel, com o seu contacto, não fosse Mozzelli encontrar por ali aquele seu amigo.
Olhou para o pedaço de papel e reparou no nome da pessoa que lhe deixara aquele papel. Chamava-se então, NICOLAU.
- Nicolau? Mas que raio!
Não se conteve e soltou um enorme palavrão. Como poderia ainda haver pessoas á face da terra, tão insensíveis à desgraça de um ser humano?
Mas não se tratava de nenhuma brincadeira!
Uma criança de Veneza, preocupada com a vida do mendigo, escreveu ao Pai Natal, para ajudar aquele pobre homem, a ter pelo menos, uma consoada com dignidade. Quando Nicolau questionou o mendigo se conhecia o seu amigo, ou onde o poderia encontrar, estava a falar verdade.
Mozzeli era nome falso.
O mendigo adoptou então aquele nome, quando á uns largos anos atrás, a sua família o deixara, por ter perdido o seu antigo emprego na velha fábrica de lãs em Verona. Decidiu que a partir dessa data, nunca mais ninguém o conheceria por tal nome.
GABRIEL REIS