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SÃO ROSAS, SENHOR!...

 
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Teresa Teixeira


(Escrito em 1988, pouco depois de ter perdido a minha bonequinha preciosa, que se transformou em Anjo...)


Não, Senhor...

O que vês em mim não é raiva
Quando maldigo o cruel dia
Que me roubou uma flor...

São lágrimas, Senhor...

O que me adivinhas na alma
Não é ódio pela noite fria
Que me trespassou de dor...

São lágrimas, Senhor...

O vazio que me corrompe
E me limita à letargia,
Não é vida sem amor...

São lágrimas, Senhor...

Não é desprezo pela vida,
O desalento que adia
O renascer do meu fervor...

São lágrimas, Senhor...

Nem é adaga pungente,
A saudade que me asfixia
E me deixa amargo sabor...

São lágrimas, Senhor...

Não é piedade de mim
A pequenez que me aniquila
Em miserável estertor...

São lágrimas, Senhor...

A negação da verdade,
O medo do novo dia,
Temer do Sol o fulgor...

São lágrimas, Senhor...

Não é terminal desalento,
Ou cobarde paralisia,
Nem arco-íris sem cor...

São lágrimas, Senhor...

O que ficou em mim não é mágoa
Se escolheste para teu Jardim
A minha mais tenra flor...

São lágrimas, Senhor...

E, se o meu botão de rosa,
Essa predilecção merecia,
Perdoa a suprema dor...

São espinhos, Senhor...

Um tão humilde tributo
Para ter uma Estrela-guia,
Um doce Anjo-protector...

São graças, Senhor...

Eu Te agradeço, Senhor,
Pelo filhos que a minha Vida
Guarda ainda, como penhor...

São bênçãos, Senhor...

Mil graças Te dou, meu Deus, pelas duas flores que me restam,
Promessas de Primavera, no meu precioso jardim...
Sei que as carícias de um Anjo voam na brisa envolvente...
E o perfume que paira...

São rosas, Senhor...


(Voz de Rute Gomes)
 
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Sterea
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1951
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Enviado por Tópico
saozinha
Publicado: 18/02/2010 18:48  Atualizado: 18/02/2010 18:48
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 Re: SÃO ROSAS, SENHOR!...
Sterea:

Como comentar este poema ?

Vou tentar faze-lo da melhor maneira que sei.

Um pema que pelo grande dramastismo descreve a dor o vazio e a raiva,a revolta de se perder um ser amado.
Mas tambem a esperança de a saber bem,a esperança tornada luz de uma estrela ,sempre presente na vida da poetisa.

Um poema que fala de morte ,mas tambem de esperança.

Um beijo


Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 18/02/2010 18:53  Atualizado: 18/02/2010 18:53
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Mensagens: 3731
 Re: SÃO ROSAS, SENHOR!... (áudio)p/Sterea
Tornei-me átomo menor perante estas rosas e l
agrimas.

Só alguém com coração de gente boa, pode escrever assim.

sem mais levanto-me e aplaudo esta grandiosidade.

bjs

Eduarda


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/02/2010 18:55  Atualizado: 18/02/2010 18:55
 Re: SÃO ROSAS, SENHOR!...
Raiva na alma, corrompe a vida, senhor.

Mil graças te dou, Meu Deus, pelas duas belas flores qque me restam.

"O tal ANJINHO faz Milagres"!

beijo

"Grapilho"


Enviado por Tópico
arfemo
Publicado: 18/02/2010 21:23  Atualizado: 18/02/2010 21:23
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 Re: SÃO ROSAS, SENHOR!... (áudio)
..não comento Sterea este belo poema/elegia mas cito Voltaire "é preciso cultivar o nosso jardim". e isso, porque é claro e evidente que o faz com desvelo, me regozija...

ah, a voz que o diz (muito bem!)

beijos
arfemo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/02/2010 10:45  Atualizado: 19/02/2010 10:45
 Re: SÃO ROSAS, SENHOR!... (áudio) p Sterea
Sterea,o sofrimento fala e cala bem fundo neste poema do amor mais profundo e com um beijo silencio-me...


Enviado por Tópico
luciusantonius
Publicado: 19/02/2010 23:06  Atualizado: 19/02/2010 23:06
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 Re: SÃO ROSAS, SENHOR!... (áudio)
Cara Sterea
Diz-se com frequência que os homens não choram. É rotunda mentira. É que as lágrimas podem não escorrer para fora, mas escorrem para dentro. Escrevo assim porque tenho a tua amaríssima experiência, vão passados dez anos e o meu Luís tinha vinte e nove. Custa-me a entender que se possa resistir a tanto. Mas acho que no essencial vou ao encontro da tua leitura. Por vezes acho que exageramos naquilo que será discrição em relação ao que acreditamos. Mas se é discrição de vez em quando temos necessidade de a por de lado e sermos autênticos. Hoje, depois de te ler senti essa necessidade. O que acontece é que eu sinto-me (e sobretudo depois da morte do Luís) profundamente crente. Não será importante especular, mas creio que existe um Deus (o Deus) à nossa espera.
O abraço da minha fraternidade
Antonius