Na mordaça
(silêncio desses tempos, que tempos, que raça)
Cala o pobre na favela,
(como o negro na senzala)
Grita e marcha a gente que vive no asfalto
(como os senhores da casa grande, agora prédios, basalto)
Mas para que serve a vidraça
(daqueles tempos de janela, de seresta e graça)
Blindagem, escudo, à prova de qual desgraça
(clamam por justiça e rangem os dentes da indiferença)
Como pode um povo esquecido
(ainda que cantado em berço esplêndido, porém nunca dantes adormecido)
Ser espoliado, de sua condição de existência
(porquê tamanha determinação? Nesta presença constante da ausência!)
Toda vida que despedaça,
Seja nos goles de cachaça,
Ou na fome que destrói e ameaça,
Na AIDS que na África dizima a raça,
Na violência que oprime, mata e gera desgraça
Na ausência, da desigualdade e do abandono, desesperança
AjAraújo, o poeta humanista, escrito no Inverno, 7/2002