Num momento de profunda tristeza
Veio-me uma vontade de exteriorizar
Toda aquela melancolia que escurecia
A minha alma...
Não pude soltar o meu grito;
Não pude arrancar meus cabelos;
Não pude rasgar minhas vestes...
Enfraquecido caí de joelhos.
Não quis jogar areia no meu corpo.
Tão pouco quis me carpir pelo chão...
Então usei a força das palavras.
Usei-a como a um antídoto
Para ver se clareava meu espírito
Já que eu não podia arrancar
Os meus olhos de suas órbitas
Para poder lançá-los,
Não na órbita da lua,
Daquela lua que era sua,
E hoje não é de ninguém,
Como nada nunca foi.
Mas na órbita de Saturno
Lá longe desse mundo
Imundo como estrume de boi...
Lindo como os lírios nas vertentes
Dos rios infindos de águas efervescentes...
Iguais a pétalas peroladas das hortênsias
E das rosas roxas ou o perfume do alecrim.
Sendo assim,
Pretendo me contentar
Com esse meu mundo tri polar:
Triste, pequeno e confuso,
Onde me perco num minuto
E no outro já estou a imaginar
Uma forma nova de esse mundo tragar
Como que se fosse uma fossa
Onde apenas fossas ilíacas
Tivesse e que todos os outros
Fósseis fossem feitos de ferrugem
E que os meus amigos soubessem
Que o que hoje em dia nasce cinza
Pode ser que amanhã amadureça.
Tenhamos todos em nossas cabeças:
Quanto mais nós nos formos alienando,
Mais a elite faz com que nos esqueça,
Mais ao equador para que o sol nos aqueça...
Fraco e cansado espírito!
Ó palavras! Frias e mortas letras!
Tendes a enganar o tempo...
Escondidas em estado primário
De dicionários...
Matéria-prima de prosas,
De cartas eivadas de amor,
De poemas que exalam rosas,
Aguadas com suor do escritor...
Gyl Ferrys