Não posso deixar de dizer que me sinto responsável por tudo isto. Dificultei a regularização de um processo essencial para o processo evolutivo que a nossa raça está a sofrer nestes tempos. Não enfrentei acusações criminais porque usei luvas.
Maldita esta era do latex. Isto já nem é Dura Lex Sed Lex. Estamos todos ligados, causamos as mais vis tragédias do outro lado do mundo. É mundo, mas é imundo. Profundo também, este problema que enfrentamos. Começou há algum tempo. Ninguém sabe onde, embora os políticos digam que foi numa esquina urinada do Bairro Alto. O problema é o facto de esta rede ser tentacular. Como polvo que é, injecta a sua tinta nas esquinas mais insuspeitas.
Quem já foi a São Bento sabe do que falo. Aquelas curvas muito redondas não são normais. Parece que escondem alguma coisa com bicos, pontas, arestas, o que quiserem.
No entanto, nos últimos tempos têm conseguido acalmar as coisas. Longe vão os tempos em que partíamos o candeeiro do Theatro Circo, que nem animais grotescos. Agora, chamam-nos góticos, punks, betinhos, os derradeiros undergrounds dos maingrounds de backgrounds uniformizados. Os freaks, os anti-caciques, nomes não faltam. Dividiram-nos em colónias microscópicas para nos sentirmos sozinhos, mutilados na nossa eterna ligação. Mas somos corpo de corpos e braços arrancados que teima em respirar. Não temos cartão, programação ou sequer intenção que seja. Somos inocentes demais para andar por aí, a incitar à inocência dos outros.
Os tempos mudam, e agora que deixámos de mijar as paredes, e deixámos o Theatro Circo em paz, temos que ir partir os candeeiros a São Bento. Tão bonitos que eles são, os candeeiros de São Bento. Enfeitados de latex, Dura Lex Lots of Sex.
São necessárias luvas bem fortes para os arrancar.