Já pouco ou quase nada que no peito cala
nesta onda que arrasta, imobiliza e abala
os pilares da "falsa" dona moral que fala
e mente descarada, ante a nação na sala
tanta gente privada mete a mão na coisa pública
saqueiam os bens de quem quase nada tem
destroem os valores do povo que emprego suplica
mantém a política imoral e humilhante distribuem
cestas, bolsas, telhas, migalhas e outros favores como se bestas fossem seres humanos aos milhares
apenas lembrados em sazonais períodos eleitorais
roubalheira nos meandros de poder nacionais
e, inda tem a cara de pau de dizer convencido
que o poder emana do povo
e que em seu nome será exercido,
mas, sugam as tetas com tentáculos de polvo
Ó gente, de capitanias, quilombos e senzalas,
de vielas, cidades e aldeias
- Que penas, ó nação Brasil ainda temos que pagar?
- Quanto tempo inda haverá para se libertar?
De tanta gente impune que explora, mata, saqueia.
Pratica há séculos a derrama, especulação, sangria.
Empurram o povo para vida em favelas, neoguetos
Na violência consentida, nos morros e asfaltos,
Das iniqüidades acaso és mãe gentil?
Corrupção histórica a corroer o frágil tecido social,
engendram tácita e imposta aceitação de métodos,
amparam colarinhos brancos e com projeção social,
Condenam à morte em lenta agonia os excluídos,
Aqueles que só representam números (ou votos)
nas estatísticas do INSS, nos leitos hospitalares,
nas filas dos sem-empregos, sem-terras, sem tetos,
excluídos do PIB, mas números, são eleitores.
Em um modelo de uma “farsa”, falsa democracia,
de um desgoverno, de promessa e remessa, vazia de uma minoria que fala em nome de uma massa, na premissa de passiva, indolente, amorfa.
(afinal tudo se repete, mudam os atores, mas a peça segue a mesma no arena da política)
Vagando qual zumbi nos trens lotados da vida,
na imoralidade da informalidade forçada,
na carência absoluta de meios de sobrevivência
e inda assim de uma gente que luta e que anseia.
Por mudanças, em cotidiana luta aguerrida,
com seu suor mantém este país de bota e espora, essa sim brava gente brasileira, aliás, prefiro essa frase do hino da independência, àquele que diz "deitado eternamente em berço esplêndido".
AjAraújo, escrito em Agosto de 2005, mas tão atual.
Imagem: Repaginada com foto da Faria Lima, em SP, no histórico dia 17 de junho de 2013.